quinta-feira, 17 de abril de 2014

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

Sempre tive uma dificuldade imensa para decorar textos. Para dizer a verdade, só sei dois textos de cor: o Soneto 17 do Shakespeare e a primeira frase do “Cem anos de solidão”. Não tive a intenção de decorar nem o soneto nem a primeira frase do livro: acabei os memorizando de tanto que os reli.

Em 1999, foi noticiado que Gabriel García Márquez tinha câncer linfático. Em 2012, que o escritor estaria demente, esquecendo-se até dos nomes dos amigos mais próximos. Foi então que, desde 2012, eu vinha pensando com frequência que chegaria o dia em que eu ficaria sabendo da morte dele, mesmo ciente, é claro, de que eu poderia ter morrido antes de ele morrer.

O dia em que eu ficaria sabendo da morte dele chegou. Neste 17 de abril, Gabriel José García Márquez morreu, com 87 anos. Com amigos, eu frequentemente comentava que, a despeito da demência, eu imaginava que ele fosse viver por mais tempo ainda, pois vem de estirpe longeva. 

“Cem anos de solidão” é o livro que mais reli, ao lado de “As relações perigosas”. Ao longo dos anos, colecionei entrevistas de García Márquez, assisti a diversos documentários sobre sua vida e obra, conferi, via internet, diversos vídeos com o autor. Em sua obra, o senso de humor, o adjetivo certeiro, a prosa imagética cheia de imaginação. Um retrato vigoroso da América Latina. 

García Márquez foi um daqueles casos em que há aclamação dos pares, da crítica e do público. Há escritores que são exaltados pela crítica, mas que não têm consagração popular. Há escritores populares que são demonizados pela crítica. García Márquez teve o respeito da crítica e a consagração do público. Teve um destino grandioso.

Sempre que eu conferia alguma entrevista com ele, eu ficava com a impressão de que ele era uma pessoa feliz. Alguém que se sabia escritor e que realizou sua vocação com uma formidável capacidade para contar uma história. Fica em mim a impressão de que essa felicidade que imagino nele ter feito com que sua vida fosse tão grandiosa quanto sua obra. 

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