quarta-feira, 14 de março de 2012

PATOTA

Ela não sabe,
mas olho minha cidade.

Coitadinha da minha cidade,
que amo/odeio
como quem
odeia/ama
aquilo que é
qualquer coisa
mas que nunca
é indiferença.

Tadinha:
tão chinfrim,
bairrista,
pequena,
pobre de livros
e farta em
donos.

É menor do
que pensa.
É maior
do que se supõe.

Ah, minha cidade,
que insiste em
não assumir
que não é conhecida
e se esquece
daquele mecânico
que sabe
de cor e salteado
os buracos
que dribla no
caminho para
o trabalho.

Minha cidade não é
o milho, não é a festa.
Minha cidade é aquele
padeiro que guardou a foto
da casa que ficava
na esquina e hoje é vitrine.

Tenho dó
da minha cidade,
que sonha em ser Paris.
Amo minha cidade,
que nem sonha ser musa.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa provinciana, mas amada Patos.
Simplesmente fantástico.

Lívio Soares de Medeiros disse...

Exatamente. Obrigado.

Luís André Nepomuceno disse...

Lívio,
É incrível como a sua relação com Patos de Minas é espelha a relação de Joyce com Dublin, ou de Drummond com Itabira: é uma conflituosa relação de amor e ódio. Nesse poema, é muito curioso como você estabelece aquilo que a cidade futilmente pensa que é, embora não seja, e aquilo que a cidade nem sonha que pode ser, mas acaba sendo - como, por exemplo, transformar-se em musa, num poema, por razões bem diversas daquelas imaginadas pelo poder local e pelos próprios bairristas de plantão. Não deixa de ser uma reflexão curiosa sobre as relações difíceis entre o indivíduo e seu meio social mais restrito.
Parabéns pelo trabalho.
Luís André

Lívio Soares de Medeiros disse...

Luís André, obrigado pelo comentário sobre o texto.

Há muito eu queria ter escrito algo com esse teor, mas não achava o tom.

Grande abraço.