Ela não sabe,
mas olho minha cidade.
Coitadinha da minha cidade,
que amo/odeio
como quem
odeia/ama
aquilo que é
qualquer coisa
mas que nunca
é indiferença.
Tadinha:
tão chinfrim,
bairrista,
pequena,
pobre de livros
e farta em
donos.
É menor do
que pensa.
É maior
do que se supõe.
Ah, minha cidade,
que insiste em
não assumir
que não é conhecida
e se esquece
daquele mecânico
que sabe
de cor e salteado
os buracos
que dribla no
caminho para
o trabalho.
Minha cidade não é
o milho, não é a festa.
Minha cidade é aquele
padeiro que guardou a foto
da casa que ficava
na esquina e hoje é vitrine.
Tenho dó
da minha cidade,
que sonha em ser Paris.
Amo minha cidade,
que nem sonha ser musa.
4 comentários:
Nossa provinciana, mas amada Patos.
Simplesmente fantástico.
Exatamente. Obrigado.
Lívio,
É incrível como a sua relação com Patos de Minas é espelha a relação de Joyce com Dublin, ou de Drummond com Itabira: é uma conflituosa relação de amor e ódio. Nesse poema, é muito curioso como você estabelece aquilo que a cidade futilmente pensa que é, embora não seja, e aquilo que a cidade nem sonha que pode ser, mas acaba sendo - como, por exemplo, transformar-se em musa, num poema, por razões bem diversas daquelas imaginadas pelo poder local e pelos próprios bairristas de plantão. Não deixa de ser uma reflexão curiosa sobre as relações difíceis entre o indivíduo e seu meio social mais restrito.
Parabéns pelo trabalho.
Luís André
Luís André, obrigado pelo comentário sobre o texto.
Há muito eu queria ter escrito algo com esse teor, mas não achava o tom.
Grande abraço.
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