“Um ‘tuquim’ de gente”. Antigamente, era essa a expressão que se usava quando as pessoas se referiam a uma criança; em especial, crianças pequenas e mirradinhas. Quando entrei na sala de aula, havia um “toquinho” me aguardando.
Eu estava lá de modo improvisado, pois eu nunca havia sido professor dele. Requisitado para assumir, emergencialmente, a vaga deixada por uma professora, eu teria de aplicar a recuperação para os alunos do ensino fundamental, ensinando para eles a matéria da prova, que já havia sido elaborada pela professora que deixara as aulas.
Não sei se o garoto já estava ciente de que eu daria a aula de recuperação. Estando ou não, pareceu não estranhar quando cheguei. Perguntei a ele seu nome e expliquei que eu daria a aula de recuperação e corrigiria a prova.
Como o conteúdo era pouco, a explicação ocorreu rapidamente. Para me certificar de que ele entendera, apliquei breve exercício, que foi resolvido sem dificuldade. Terminada essa etapa, havia ainda alguns minutinhos disponíveis antes do término da aula.
Foi quando o garoto, distraidamente, começou a batucar sobre a mesa. Era a cadência do samba fluindo naturalmente das pequenas mãos. Sem que ele reparasse, continuei escutando. Depois que ele parou, comentei que ele é bom de ritmo. Ele riu levemente.
Perguntei então se ele toca algum instrumento. Disse que está fazendo aulas de cavaquinho. Fiquei surpreso. Perguntei a seguir o motivo pelo qual ele faz aulas de cavaquinho. “Porque eu gosto”, foi a resposta. Parei de fazer perguntas; alguns segundos depois, ele, absorto, voltou a batucar, dessa vez segurando duas canetas.
Quando ele parou, perguntei há quanto tempo ele está fazendo aulas de cavaquinho. “Seis meses”, disse ele; e completou: “Também estou aprendendo pandeiro”. Pensei comigo que o fato de ele estar aprendendo a manejar o pandeiro explica em parte os batuques distraídos em sala de aula.
Prosseguindo, eu disse a ele que no ano que vem serei professor dele. Adiantei que no futuro vou pedir a ele que leve o cavaquinho para a sala de aula, assegurando-lhe que levarei meu bongô, a fim de acompanhar o cavaquinho. Depois, perguntei para ele se ele conhecia bongô. Ele fez involuntário gesto percussivo, como se estivesse batucando num. Rindo, disse: “Conheço. O Jô Soares usa um”.
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