Tive o imenso privilégio de ler recentemente alguns escritos de Rusimário Bernardes, grande amigo. Um dos textos dele tem o título de “Agapantos”. Eu não conhecia a palavra, mas assim que a li, pensei: “Que palavra fantástica!”. Agapantos.
terça-feira, 31 de março de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
APONTAMENTO 50
Um domingo de um céu pleno de azul e de nuvens movimentadas arredou a tristeza.
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A GOTA D'ÁGUA
Lá no fundo total
do quase seco poço,
há uma gota de esperança.
Não morrerá –
nem quando eu morrer.
Pois quando chegar esse dia,
a gota de esperança
outros há de amparar.
do quase seco poço,
há uma gota de esperança.
Não morrerá –
nem quando eu morrer.
Pois quando chegar esse dia,
a gota de esperança
outros há de amparar.
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sábado, 28 de março de 2009
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sexta-feira, 27 de março de 2009
ENTREVISTA COM LUÍS ANDRÉ NEPOMUCENO
Amanhã, 28 de março, a partir das 20h, no auditório do Colégio Marista, vai ocorrer o lançamento do livro “Os anões”, de Luís André Nepomuceno. É seu terceiro livro de ficção, todos lançados pela Editora 7Letras, por intermédio da qual já saíram “Antipalavra” (2004) e “A lanterna mágica de Jeremias” (2005).
O autor também é ensaísta. Publicou “A musa desnuda e o poeta tímido: o petrarquismo na Arcádia Brasileira” (Annablume, 2002) e “Petrarca e o Humanismo” (Edusc, 2008). Em seu trabalho acadêmico, vem publicando em revistas do Brasil e do exterior.
Pleno homem das letras, também se dedica à tradução, tendo vertido para o português “Vida de Petrarca”, de Ugo Dotti (Unicamp, 2006). Com pós-doutorado pela Unicamp, Nepomuceno é professor no curso de Letras do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). Na instituição, foi até recentemente o coordenador do curso em que leciona, cargo que exerceu por quase dez anos. Atualmente, além das aulas, é o responsável pelo Núcleo de Editoria e Publicações do Unipam, criado neste 2009.
Procurado por mim, o autor gentilmente concedeu a entrevista abaixo, a primeira publicada por este blogue. Entrevista e texto crítico sobre o livro (este, já publicado aqui) serão publicados também na edição deste sábado do jornal Folha Patense.
_____
Liviano: Parece-me que “Os anões” tem uma linguagem e uma sintaxe diferentes de seus dois outros livros de ficção. Essa mudança se deve ao tema do livro ou não somente ao tema?
Luís André Nepomuceno: O abuso nas estruturas sintáticas, na construção deste livro, se deve essencialmente ao tema e às formas de olhar o mundo do próprio personagem-narrador, que é portador de uma miopia avançada e, tendo perdido os óculos no começo da narrativa, não é capaz de perceber com exatidão as coisas que acontecem a seu redor. O estranhamento da linguagem é um pouco a representação disso. A estrutura narrativa, em especial a estrutura dos diálogos (escritos de tal forma a confundir as vozes do discurso) reflete um pouco esse olhar, que é igualmente uma metáfora das formas restritivas de se olhar o mundo e a sociedade.
Liviano: O que mudou no ficcionista desde o “Antipalavra” até “Os anões”? E o que não mudou?
Nepomuceno: Em geral, não gosto muito de ler meus textos já publicados, porque sempre dá uma vontade enorme de mexer numa coisa ou outra. É incrível como, de um livro para outro, a gente sente um processo de desenvolvimento que, por vezes, só é percebido inteiramente pelo próprio autor. Relendo alguns contos de “Antipalavra”, especialmente os mais antigos, tenho sempre o ímpeto e o desejo da mudança. “Antipalavra” foi um livro gestado numa década inteira, numa época em que houve contos que foram inteiramente reescritos, outros lançados ao lixo, outros engavetados à espera de outras possibilidades. O que mudou? A linguagem, sem dúvida, que hoje parece mais limpa, menos intoxicada com exercícios inúteis de malabarismo. O que não mudou? Meus ideais, que continuam os mesmos: a crença no belo, na eternidade, no próprio homem para além de suas fronteiras. Isso não parece nem um pouco moderno? Mas o que se há de fazer? Detestaria a angústia de dizer o que não sinto, o que não quero.
Liviano: O que lhe dá mais prazer: a ficção, o ensaio ou a tradução? Ou são prazeres diferentes?
Nepomuceno: São prazeres diferentes, sim, mas a ficção está acima de qualquer coisa, às vezes parece substituir a própria vida. Como não é possível viver todos os mundos possíveis, todas as vidas sonhadas, então escrevemos ficção. Pode também parecer sublimação freudiana, mas acho que a arte e as projeções da beleza precedem essas análises, que sempre parecerão reducionistas. No ensaio, as idéias são muito técnicas, e particularmente prefiro o ensaio de natureza acadêmica, que não inventa de ser poesia. A tradução é uma experiência curiosa, porque eventualmente te força a escrever de uma forma que você não deseja. Mas o tradutor, para não ser traidor, deve sempre fazer o exercício de não ser ele mesmo, mas aquele que ele traduz. Por tudo isso, a ficção (para além da poesia, é claro) se revela como a face mais íntima do escritor. É o momento em que ele é ele mesmo, ainda que sob máscaras.
Liviano: Jorge Luis Borges disse que o escritor passa a vida inteira escrevendo o mesmo livro. Caso você concorde, qual seria o seu?
Nepomuceno: É uma pergunta difícil, mas concordo inteiramente com Borges. Tenho, sim, a curiosa sensação de estar escrevendo o mesmo livro, a mesma coisa, apenas com variações por aqui e ali. Isso me incomodava até certo tempo, mas depois que entendi que o processo é esse mesmo, fiquei conformado. Tenho na cabeça a idéia de um romance em que o narrador procura avidamente (e depois descobre) os manuscritos antigos de um filósofo de outro tempo. À medida que vai lendo seus escritos, entende que sua própria vida se modifica em função dos seus entendimentos sobre o conteúdo daqueles escritos. Tudo isso me pareceu uma repetição de “A lanterna mágica de Jeremias”, ou do “Cartografias da imagem” (romance inédito, ainda por ser revisto). Será que eu estava escrevendo a mesma coisa? Acho que sim, mas definitivamente isso não me parece um problema.
Liviano: Você tem preferência maior por algum de seus livros de ficção? (Por quê?)
Nepomuceno: Penso que a gente sempre tem preferência pelo último texto escrito, por ele ainda estar compatível com os seus últimos anseios. Gosto de “Os anões”. Às vezes me ocorrem pensamentos como “eu precisava muito escrever tal coisa”, e depois me lembro: mas isso está em “Os anões”. Sinto certo alívio. Depois penso: Mas como eu acho importante ter escrito isso. Cada um considera as suas importâncias. Eu considero as minhas.
Liviano: Em sua atuação acadêmica, você se dedica à pesquisa sobre Petrarca e Boccaccio, que estiveram no alvorecer do Humanismo. Até que ponto o Humanismo é influência em seu trabalho de ficção?
Nepomuceno: Sempre pensei que, na minha ficção, nunca tinha dado respostas pessoais às obras de Petrarca e Boccaccio. Mas os escritores não têm que legitimar e ponderar sobre essas influências. De qualquer forma, entendi depois que os ideais humanistas estavam impregnados na minha ficção, muito mais do que eu imaginava. Quem me chamou a atenção para isso foi ninguém menos que Fábio Lucas, que me deu a honra de comentar os meus dois livros. Mencionando certos contos de “Antipalavra”, apontou neles esse viés do Humanismo, e especialmente o de Petrarca. Uma vez mais: não parece nada moderno? O que se há de fazer? Que os mais contemporâneos e afinados com as últimas exigências da técnica pós-qualquer coisa me perdoem. Ou pelo menos que me tolerem. “Cartas do novo mundo”, que é um livro que por enquanto está apenas na minha cabeça, é a reescrita de um episódio que aconteceu na vida de Petrarca que, quando esteve em Verona, fugindo de perseguições políticas, encontrou um dos mais raros manuscritos da Idade Média: as cartas de Cícero e Ático. Não podendo furtar o manuscrito (como fez o atrevido Boccaccio, numa biblioteca da Itália), ele teve de copiar o manuscrito inteiro à mão (seriam 700 páginas hoje), e com o braço direito quebrado! Acho o episódio maravilhoso. Isso é um amor irrestrito à humanidade e ao legado que o ser humano é capaz de nos oferecer.
Liviano: Acho complicado perguntar para um ficcionista sobre os escritores de sua predileção, pois me parece que tudo o que é lido acaba “respingando” no que se escreve. Ainda assim, você poderia apontar escritores que julga decisivos em sua formação?
Nepomuceno: Quando li Thomas Mann, tive a nítida impressão de que minha visão sobre a literatura e sobre meus projetos pessoais estavam divididos entre antes e depois dessa leitura. Thomas Mann disse coisas que há muito eu esperava ouvir, especialmente as relações entre os anseios sociais e espirituais do escritor e sua condenada inclinação burguesa para o prazer estético. É uma angústia de natureza platônica, como está em “Morte em Veneza”, por exemplo. Eu diria que é um escritor que determinou a formação das minhas idéias mais essenciais sobre a literatura e a arte. Mas há tanta gente por aí que seria injusto não mencionar: Graciliano Ramos, Drummond, Machado de Assis (sempre, não é?), o próprio Guimarães Rosa (que me ajudou a formar, embora hoje já não o tenha como um modelo); e os clássicos inevitáveis: Homero (a “Ilíada” me impressionou profundamente – n’Os anões, há uma cena nitidamente homérica, quando disputam o corpo de um cadáver), Boccaccio, que é um contador de histórias extraordinário; e outros modernos, Walt Whitman, Shakespeare. Sabe quando percebo que estou diante de um grande escritor? Quando ele próprio me incita a escrever, depois de ler o seu livro. É o que tem acontecido com Mário de Andrade, que recentemente tem quase me obrigado a escrever alguma coisa, depois de eu ter lido a sua ficção. Genial.
Liviano: Você já se dedicou ao estudo do violão. Também já realizou exposição de quadros. O fato de não mais exercer essas atividades se deve somente à falta de tempo?
Nepomuceno: Não é falta de tempo. Há um tempo para tudo. No passado, me dediquei fervorosamente à música, depois às artes plásticas, namorei o teatro rapidamente, depois nem sei mais. Essas coisas me deram respostas a certos anseios, em determinados momentos. A literatura, não, me acompanhou a vida inteira. Esposa fidelíssima. Se eu tivesse mais tempo hoje (e como desejaria ter!), tenho certeza de que me dedicaria cada vez mais a ler e escrever. E escrever muito.
O autor também é ensaísta. Publicou “A musa desnuda e o poeta tímido: o petrarquismo na Arcádia Brasileira” (Annablume, 2002) e “Petrarca e o Humanismo” (Edusc, 2008). Em seu trabalho acadêmico, vem publicando em revistas do Brasil e do exterior.
Pleno homem das letras, também se dedica à tradução, tendo vertido para o português “Vida de Petrarca”, de Ugo Dotti (Unicamp, 2006). Com pós-doutorado pela Unicamp, Nepomuceno é professor no curso de Letras do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). Na instituição, foi até recentemente o coordenador do curso em que leciona, cargo que exerceu por quase dez anos. Atualmente, além das aulas, é o responsável pelo Núcleo de Editoria e Publicações do Unipam, criado neste 2009.
Procurado por mim, o autor gentilmente concedeu a entrevista abaixo, a primeira publicada por este blogue. Entrevista e texto crítico sobre o livro (este, já publicado aqui) serão publicados também na edição deste sábado do jornal Folha Patense.
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Liviano: Parece-me que “Os anões” tem uma linguagem e uma sintaxe diferentes de seus dois outros livros de ficção. Essa mudança se deve ao tema do livro ou não somente ao tema?
Luís André Nepomuceno: O abuso nas estruturas sintáticas, na construção deste livro, se deve essencialmente ao tema e às formas de olhar o mundo do próprio personagem-narrador, que é portador de uma miopia avançada e, tendo perdido os óculos no começo da narrativa, não é capaz de perceber com exatidão as coisas que acontecem a seu redor. O estranhamento da linguagem é um pouco a representação disso. A estrutura narrativa, em especial a estrutura dos diálogos (escritos de tal forma a confundir as vozes do discurso) reflete um pouco esse olhar, que é igualmente uma metáfora das formas restritivas de se olhar o mundo e a sociedade.
Liviano: O que mudou no ficcionista desde o “Antipalavra” até “Os anões”? E o que não mudou?
Nepomuceno: Em geral, não gosto muito de ler meus textos já publicados, porque sempre dá uma vontade enorme de mexer numa coisa ou outra. É incrível como, de um livro para outro, a gente sente um processo de desenvolvimento que, por vezes, só é percebido inteiramente pelo próprio autor. Relendo alguns contos de “Antipalavra”, especialmente os mais antigos, tenho sempre o ímpeto e o desejo da mudança. “Antipalavra” foi um livro gestado numa década inteira, numa época em que houve contos que foram inteiramente reescritos, outros lançados ao lixo, outros engavetados à espera de outras possibilidades. O que mudou? A linguagem, sem dúvida, que hoje parece mais limpa, menos intoxicada com exercícios inúteis de malabarismo. O que não mudou? Meus ideais, que continuam os mesmos: a crença no belo, na eternidade, no próprio homem para além de suas fronteiras. Isso não parece nem um pouco moderno? Mas o que se há de fazer? Detestaria a angústia de dizer o que não sinto, o que não quero.
Liviano: O que lhe dá mais prazer: a ficção, o ensaio ou a tradução? Ou são prazeres diferentes?
Nepomuceno: São prazeres diferentes, sim, mas a ficção está acima de qualquer coisa, às vezes parece substituir a própria vida. Como não é possível viver todos os mundos possíveis, todas as vidas sonhadas, então escrevemos ficção. Pode também parecer sublimação freudiana, mas acho que a arte e as projeções da beleza precedem essas análises, que sempre parecerão reducionistas. No ensaio, as idéias são muito técnicas, e particularmente prefiro o ensaio de natureza acadêmica, que não inventa de ser poesia. A tradução é uma experiência curiosa, porque eventualmente te força a escrever de uma forma que você não deseja. Mas o tradutor, para não ser traidor, deve sempre fazer o exercício de não ser ele mesmo, mas aquele que ele traduz. Por tudo isso, a ficção (para além da poesia, é claro) se revela como a face mais íntima do escritor. É o momento em que ele é ele mesmo, ainda que sob máscaras.
Liviano: Jorge Luis Borges disse que o escritor passa a vida inteira escrevendo o mesmo livro. Caso você concorde, qual seria o seu?
Nepomuceno: É uma pergunta difícil, mas concordo inteiramente com Borges. Tenho, sim, a curiosa sensação de estar escrevendo o mesmo livro, a mesma coisa, apenas com variações por aqui e ali. Isso me incomodava até certo tempo, mas depois que entendi que o processo é esse mesmo, fiquei conformado. Tenho na cabeça a idéia de um romance em que o narrador procura avidamente (e depois descobre) os manuscritos antigos de um filósofo de outro tempo. À medida que vai lendo seus escritos, entende que sua própria vida se modifica em função dos seus entendimentos sobre o conteúdo daqueles escritos. Tudo isso me pareceu uma repetição de “A lanterna mágica de Jeremias”, ou do “Cartografias da imagem” (romance inédito, ainda por ser revisto). Será que eu estava escrevendo a mesma coisa? Acho que sim, mas definitivamente isso não me parece um problema.
Liviano: Você tem preferência maior por algum de seus livros de ficção? (Por quê?)
Nepomuceno: Penso que a gente sempre tem preferência pelo último texto escrito, por ele ainda estar compatível com os seus últimos anseios. Gosto de “Os anões”. Às vezes me ocorrem pensamentos como “eu precisava muito escrever tal coisa”, e depois me lembro: mas isso está em “Os anões”. Sinto certo alívio. Depois penso: Mas como eu acho importante ter escrito isso. Cada um considera as suas importâncias. Eu considero as minhas.
Liviano: Em sua atuação acadêmica, você se dedica à pesquisa sobre Petrarca e Boccaccio, que estiveram no alvorecer do Humanismo. Até que ponto o Humanismo é influência em seu trabalho de ficção?
Nepomuceno: Sempre pensei que, na minha ficção, nunca tinha dado respostas pessoais às obras de Petrarca e Boccaccio. Mas os escritores não têm que legitimar e ponderar sobre essas influências. De qualquer forma, entendi depois que os ideais humanistas estavam impregnados na minha ficção, muito mais do que eu imaginava. Quem me chamou a atenção para isso foi ninguém menos que Fábio Lucas, que me deu a honra de comentar os meus dois livros. Mencionando certos contos de “Antipalavra”, apontou neles esse viés do Humanismo, e especialmente o de Petrarca. Uma vez mais: não parece nada moderno? O que se há de fazer? Que os mais contemporâneos e afinados com as últimas exigências da técnica pós-qualquer coisa me perdoem. Ou pelo menos que me tolerem. “Cartas do novo mundo”, que é um livro que por enquanto está apenas na minha cabeça, é a reescrita de um episódio que aconteceu na vida de Petrarca que, quando esteve em Verona, fugindo de perseguições políticas, encontrou um dos mais raros manuscritos da Idade Média: as cartas de Cícero e Ático. Não podendo furtar o manuscrito (como fez o atrevido Boccaccio, numa biblioteca da Itália), ele teve de copiar o manuscrito inteiro à mão (seriam 700 páginas hoje), e com o braço direito quebrado! Acho o episódio maravilhoso. Isso é um amor irrestrito à humanidade e ao legado que o ser humano é capaz de nos oferecer.
Liviano: Acho complicado perguntar para um ficcionista sobre os escritores de sua predileção, pois me parece que tudo o que é lido acaba “respingando” no que se escreve. Ainda assim, você poderia apontar escritores que julga decisivos em sua formação?
Nepomuceno: Quando li Thomas Mann, tive a nítida impressão de que minha visão sobre a literatura e sobre meus projetos pessoais estavam divididos entre antes e depois dessa leitura. Thomas Mann disse coisas que há muito eu esperava ouvir, especialmente as relações entre os anseios sociais e espirituais do escritor e sua condenada inclinação burguesa para o prazer estético. É uma angústia de natureza platônica, como está em “Morte em Veneza”, por exemplo. Eu diria que é um escritor que determinou a formação das minhas idéias mais essenciais sobre a literatura e a arte. Mas há tanta gente por aí que seria injusto não mencionar: Graciliano Ramos, Drummond, Machado de Assis (sempre, não é?), o próprio Guimarães Rosa (que me ajudou a formar, embora hoje já não o tenha como um modelo); e os clássicos inevitáveis: Homero (a “Ilíada” me impressionou profundamente – n’Os anões, há uma cena nitidamente homérica, quando disputam o corpo de um cadáver), Boccaccio, que é um contador de histórias extraordinário; e outros modernos, Walt Whitman, Shakespeare. Sabe quando percebo que estou diante de um grande escritor? Quando ele próprio me incita a escrever, depois de ler o seu livro. É o que tem acontecido com Mário de Andrade, que recentemente tem quase me obrigado a escrever alguma coisa, depois de eu ter lido a sua ficção. Genial.
Liviano: Você já se dedicou ao estudo do violão. Também já realizou exposição de quadros. O fato de não mais exercer essas atividades se deve somente à falta de tempo?
Nepomuceno: Não é falta de tempo. Há um tempo para tudo. No passado, me dediquei fervorosamente à música, depois às artes plásticas, namorei o teatro rapidamente, depois nem sei mais. Essas coisas me deram respostas a certos anseios, em determinados momentos. A literatura, não, me acompanhou a vida inteira. Esposa fidelíssima. Se eu tivesse mais tempo hoje (e como desejaria ter!), tenho certeza de que me dedicaria cada vez mais a ler e escrever. E escrever muito.
quinta-feira, 26 de março de 2009
FOTOPOEMA 61
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DIA MUNDIAL DO RATO
Acabei de ler agora que o dia 4 de abril é dedicado ao rato. Sim: 4 de abril é o dia mundial do rato. A intenção é fazer com que o bicho seja reconhecido como animal de estimação e companhia para pessoas de todas as idades. Caso se interesse pelo texto (em inglês), clique aqui.
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quarta-feira, 25 de março de 2009
LEONARD COHEN
Tendo a chance, assista ao documentário “I’m your man”, do diretor Lian Lunson. O documentário, que tem Mel Gibson como um dos produtores, é sobre o cantor, poeta e compositor Leonard Cohen.
À medida que vamos sabendo detalhes da vida de Cohen, intérpretes como Bono Vox e Nick Cave interpretam as canções do homenageado. Quando o documentário termina, fica difícil saber o que é mais rico – se o trabalho ou se a vida de Leonard Cohen.
À medida que vamos sabendo detalhes da vida de Cohen, intérpretes como Bono Vox e Nick Cave interpretam as canções do homenageado. Quando o documentário termina, fica difícil saber o que é mais rico – se o trabalho ou se a vida de Leonard Cohen.
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"POR AMOR AO JOGO"
Anteontem, assisti novamente a “Por amor” (For Love of the Game – EUA, 1999), do diretor Sam Raimi. O filme é baseado no romance “For love of the game”, de Michael Shaara. Nos papéis principais, Kevin Costner (Billy Chapel) e Kelly Preston (Jane Aubrey).
Chapel é ídolo de equipe de beisebol. Com quarenta anos, está no fim de sua carreira como atleta. No dia em que jogaria partida decisiva, recebe dois “golpes”: os novos donos do time em que joga querem negociá-lo e sua namorada anuncia que vai deixá-lo, mudando-se para Londres (estão em Nova Iorque) a trabalho.
Chegado o momento da partida de beisebol, temos acesso ao que se passa na cabeça de Chapel. O jogador, ao mesmo tempo em que dialoga consigo sobre o jogo, revê seu passado, em especial sua relação com Aubrey.
À medida que a partida prossegue, vamos entendendo a cabeça de Chapel. Turrão, ele se vira melhor no jogo de beisebol do que no jogo do amor. Não que não ame de fato a namorada, mas não sabe lidar com esse amor de modo menos “rude”. Ainda que sem querer, acaba magoando a companheira.
Em meio ao turbilhão de um estádio lotado, Chapel revê também seu começo no esporte, já que havia sido incentivado pelo pai desde quando aquele não passava de um garoto. Aumentando a dramaticidade, há ainda um braço do jogador que doi muito, sequela de um acidente que quase o impedira de continuar no esporte.
Eu não me lembrava mais de que o filme era baseado em livro, que pretendo ler. A beleza do esporte pode também ser material para ficção. O filme mergulha no caráter do ensimesmado ídolo, trazendo à tona um personagem tão interessante e “comum” quanto seus milhões de fãs.
Chapel é ídolo de equipe de beisebol. Com quarenta anos, está no fim de sua carreira como atleta. No dia em que jogaria partida decisiva, recebe dois “golpes”: os novos donos do time em que joga querem negociá-lo e sua namorada anuncia que vai deixá-lo, mudando-se para Londres (estão em Nova Iorque) a trabalho.
Chegado o momento da partida de beisebol, temos acesso ao que se passa na cabeça de Chapel. O jogador, ao mesmo tempo em que dialoga consigo sobre o jogo, revê seu passado, em especial sua relação com Aubrey.
À medida que a partida prossegue, vamos entendendo a cabeça de Chapel. Turrão, ele se vira melhor no jogo de beisebol do que no jogo do amor. Não que não ame de fato a namorada, mas não sabe lidar com esse amor de modo menos “rude”. Ainda que sem querer, acaba magoando a companheira.
Em meio ao turbilhão de um estádio lotado, Chapel revê também seu começo no esporte, já que havia sido incentivado pelo pai desde quando aquele não passava de um garoto. Aumentando a dramaticidade, há ainda um braço do jogador que doi muito, sequela de um acidente que quase o impedira de continuar no esporte.
Eu não me lembrava mais de que o filme era baseado em livro, que pretendo ler. A beleza do esporte pode também ser material para ficção. O filme mergulha no caráter do ensimesmado ídolo, trazendo à tona um personagem tão interessante e “comum” quanto seus milhões de fãs.
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terça-feira, 24 de março de 2009
CRÍTICA DO LIVRO "OS ANÕES"
No próximo sábado, a partir das 20h, no auditório do Colégio Marista, vai ocorrer o lançamento do livro “Os anões”, de Luís André Nepomuceno (7Letras).
Na sexta-feira, este blogue publica entrevista com o autor, concedida via e-mail. Abaixo, texto que escrevi sobre o livro
_____
De antemão, digo que “Os anões”, de Luís André Nepomuceno, é seu livro mais ousado. Em suas demais narrativas, sejam os contos ou o romance, vejo um escritor que, embora se mostre seguro do que faz, pisa terreno que conhece – ou que parece conhecer. Em “Os anões”, parece-me que pisa um chão novo.
Se o “Antipalavra” mostra o neófito que coloca a cara a tapa e o “A lanterna mágica de Jeremias” confirma a presença do ficcionista, “Os anões” demonstra que esse mesmo ficcionista quer uma nova possibilidade, reinventando-se. A absurdidade (que voltarei a mencionar) do enredo já é um sintoma de que parece haver um novo viés em sua ficção. Senti haver uma nova forma de tratar temas que já podiam ser entrevistos em seus textos.
Certa vez, li que o Bentinho, como narrador, era atípico porque simplesmente não confiamos nele. O leitor geralmente quer acreditar no narrador, mas isso não ocorreria no caso do Bentinho. Menciono isso porque, à medida que lia “Os anões”, eu ficava desconfiando do que nos conta João Evangelista Jetur da Fé. Valendo-se de um estratagema diferente do de Machado, Nepomuceno acabou nos apresentando um narrador em que, a princípio, não se confia. Não somente pela miopia e pela falta dos óculos, mas principalmente por ele tanto reiterar que não está enxergando. Trata-se de um míope num ambiente lúgubre. Eu ia lendo e me perguntando se o que estava sendo narrado estava mesmo acontecendo, perguntando-me se eu deveria mesmo acreditar no que ia sendo contado por João. Mas aí, engenhoso paradoxo, ainda que João não estivesse captando os fatos como realmente eram, pouco a pouco um desconforto vai se formando: o narrador enxerga distorcido, mas o mundo que chega até nós por intermédio de seus olhos míopes é muito parecido com o mundo que temos aqui, fora daquela casa insana. João não enxerga bem. Logo, pode estar amenizando o grotesco de algo que já é por demais bizarro. João não enxerga bem, mas os anões, gradativamente, vão se mostrando ser muito parecidos com o que somos. Acabada a história, o que menos importa é se João enxergou ou não “corretamente” (assim como em “Dom Casmurro” o que menos importa é se Capitu traiu ou não). No fim, não me parece importante saber se João suavizou (sem querer, é claro) ou distorceu o que presenciou. Temos um mundo trazido até nós por seus olhos embaçados. O “material” que temos é a terrível realidade de contornos imprecisos que nos é apresentada. A realidade dele é a nossa.
O espaço em que a história vai se desdobrando é opressor não somente porque praticamente tudo ocorre dentro da casa. Isso, por si, já bastaria para transmitir ao leitor a atmosfera de clausura. Mas como se não bastasse João estar preso em sua residência, ela está lotada... O que já era restrito, torna-se insuportável. Por várias vezes, fiquei me perguntando se João não tomaria uma atitude. A qualquer momento, eu esperava que ele se tornasse incisivo, enérgico. A leitura vai prosseguindo. Criaturas se movendo em todos os cantos. Não há um espaço sequer da casa em que não haja um anão. No banheiro, na sala, nos quartos. Para piorar um ambiente que por si já está desumano, a onipresença deles é violenta. Não satisfeito, leitor? Pois não: há ainda uma misteriosa doença que para os anões está lá fora, o que justificaria terem se trancado na casa de João, em tentativa de se protegerem dela. São elementos demais para um espaço pequeno, ainda que a casa, conforme se sabe, seja grande. Houve momentos em que, não sei se proposital ou não da parte do escritor, escutei ecos de um Kafka ou de um Orwell no que diz respeito à atmosfera repressora e burocrática (Abliel e aqueles ofícios irritantes que pareciam não ter fim). Já no fim da narrativa, há um momento em que João diz que tudo está enigmático para ele. De minha parte houve aquele sorriso que quase não é sorriso. Pensei: “Não se preocupe, amigo; tudo é enigmático para mim também”.
O leitor vai se fazendo um sem-número de perguntas enquanto lê. Nem todas as respostas são dadas. O que é Abliel? Ele é símbolo de quê? Lembro-me de que, em conversa com o autor, ele havia mencionado certo temor de que o livro fosse visto como alegoria política. Não vejo assim. A violência, a intolerância, o preconceito (“Anãozinho negro estúpido e efeminado”), a obediência quase absoluta dos anões aos ofícios de Abliel... Isso tudo, reconhecemos como elementos do mundo todo presentes naquela casa. Se o lugar é microcosmo de um mundo sem conhecimento, sem humanidade, sem compaixão e destituído de racionalidade, João, por sua vez, acaba realizando o percurso de um herói às avessas. Um herói “torto”. Em seu “exílio” ou “retiro”, após vivenciar, com o parco entendimento que diz ter, atrocidades e bestialidades, precisa voltar não para sua casa, mas para as ruas. A boa nova, ele a conta não quando volta para casa, mas quando sai dela. Vivendo na escuridão, foi buscar o que lá fora luzia. Os anões, ao fugir da doença, acabaram produzindo um mundo doentio. João, em contrapartida, tem fé de que a ausência de amor é a causa das doenças. Doentes são os anões, em sua falta de amor. A miopia é deles.
“Os anões” me causou certo estranhamento. Entenda esse estranhamento como conseqüência da absurdidade a que já fiz referência. Há uma certa ironia amarga até nos nomes dos anões, em função da terminação el. Cornélia diz: “Ninguém mergulha em meu pai, senão por mim”. Tudo é muito sinistro. Há mesmo cenas em que a violência é descrita, mas essa não é, penso, o que a história tem de mais violento. A violência física é “mero” reflexo de um ambiente sombrio que produz outras formas de coerção e desumanidade.
O fato de Luís André Nepomuceno ter arriscado um caminho diferente em sua ficção (pelo menos vejo assim) já é bacana.
Na sexta-feira, este blogue publica entrevista com o autor, concedida via e-mail. Abaixo, texto que escrevi sobre o livro
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De antemão, digo que “Os anões”, de Luís André Nepomuceno, é seu livro mais ousado. Em suas demais narrativas, sejam os contos ou o romance, vejo um escritor que, embora se mostre seguro do que faz, pisa terreno que conhece – ou que parece conhecer. Em “Os anões”, parece-me que pisa um chão novo.
Se o “Antipalavra” mostra o neófito que coloca a cara a tapa e o “A lanterna mágica de Jeremias” confirma a presença do ficcionista, “Os anões” demonstra que esse mesmo ficcionista quer uma nova possibilidade, reinventando-se. A absurdidade (que voltarei a mencionar) do enredo já é um sintoma de que parece haver um novo viés em sua ficção. Senti haver uma nova forma de tratar temas que já podiam ser entrevistos em seus textos.
Certa vez, li que o Bentinho, como narrador, era atípico porque simplesmente não confiamos nele. O leitor geralmente quer acreditar no narrador, mas isso não ocorreria no caso do Bentinho. Menciono isso porque, à medida que lia “Os anões”, eu ficava desconfiando do que nos conta João Evangelista Jetur da Fé. Valendo-se de um estratagema diferente do de Machado, Nepomuceno acabou nos apresentando um narrador em que, a princípio, não se confia. Não somente pela miopia e pela falta dos óculos, mas principalmente por ele tanto reiterar que não está enxergando. Trata-se de um míope num ambiente lúgubre. Eu ia lendo e me perguntando se o que estava sendo narrado estava mesmo acontecendo, perguntando-me se eu deveria mesmo acreditar no que ia sendo contado por João. Mas aí, engenhoso paradoxo, ainda que João não estivesse captando os fatos como realmente eram, pouco a pouco um desconforto vai se formando: o narrador enxerga distorcido, mas o mundo que chega até nós por intermédio de seus olhos míopes é muito parecido com o mundo que temos aqui, fora daquela casa insana. João não enxerga bem. Logo, pode estar amenizando o grotesco de algo que já é por demais bizarro. João não enxerga bem, mas os anões, gradativamente, vão se mostrando ser muito parecidos com o que somos. Acabada a história, o que menos importa é se João enxergou ou não “corretamente” (assim como em “Dom Casmurro” o que menos importa é se Capitu traiu ou não). No fim, não me parece importante saber se João suavizou (sem querer, é claro) ou distorceu o que presenciou. Temos um mundo trazido até nós por seus olhos embaçados. O “material” que temos é a terrível realidade de contornos imprecisos que nos é apresentada. A realidade dele é a nossa.
O espaço em que a história vai se desdobrando é opressor não somente porque praticamente tudo ocorre dentro da casa. Isso, por si, já bastaria para transmitir ao leitor a atmosfera de clausura. Mas como se não bastasse João estar preso em sua residência, ela está lotada... O que já era restrito, torna-se insuportável. Por várias vezes, fiquei me perguntando se João não tomaria uma atitude. A qualquer momento, eu esperava que ele se tornasse incisivo, enérgico. A leitura vai prosseguindo. Criaturas se movendo em todos os cantos. Não há um espaço sequer da casa em que não haja um anão. No banheiro, na sala, nos quartos. Para piorar um ambiente que por si já está desumano, a onipresença deles é violenta. Não satisfeito, leitor? Pois não: há ainda uma misteriosa doença que para os anões está lá fora, o que justificaria terem se trancado na casa de João, em tentativa de se protegerem dela. São elementos demais para um espaço pequeno, ainda que a casa, conforme se sabe, seja grande. Houve momentos em que, não sei se proposital ou não da parte do escritor, escutei ecos de um Kafka ou de um Orwell no que diz respeito à atmosfera repressora e burocrática (Abliel e aqueles ofícios irritantes que pareciam não ter fim). Já no fim da narrativa, há um momento em que João diz que tudo está enigmático para ele. De minha parte houve aquele sorriso que quase não é sorriso. Pensei: “Não se preocupe, amigo; tudo é enigmático para mim também”.
O leitor vai se fazendo um sem-número de perguntas enquanto lê. Nem todas as respostas são dadas. O que é Abliel? Ele é símbolo de quê? Lembro-me de que, em conversa com o autor, ele havia mencionado certo temor de que o livro fosse visto como alegoria política. Não vejo assim. A violência, a intolerância, o preconceito (“Anãozinho negro estúpido e efeminado”), a obediência quase absoluta dos anões aos ofícios de Abliel... Isso tudo, reconhecemos como elementos do mundo todo presentes naquela casa. Se o lugar é microcosmo de um mundo sem conhecimento, sem humanidade, sem compaixão e destituído de racionalidade, João, por sua vez, acaba realizando o percurso de um herói às avessas. Um herói “torto”. Em seu “exílio” ou “retiro”, após vivenciar, com o parco entendimento que diz ter, atrocidades e bestialidades, precisa voltar não para sua casa, mas para as ruas. A boa nova, ele a conta não quando volta para casa, mas quando sai dela. Vivendo na escuridão, foi buscar o que lá fora luzia. Os anões, ao fugir da doença, acabaram produzindo um mundo doentio. João, em contrapartida, tem fé de que a ausência de amor é a causa das doenças. Doentes são os anões, em sua falta de amor. A miopia é deles.
“Os anões” me causou certo estranhamento. Entenda esse estranhamento como conseqüência da absurdidade a que já fiz referência. Há uma certa ironia amarga até nos nomes dos anões, em função da terminação el. Cornélia diz: “Ninguém mergulha em meu pai, senão por mim”. Tudo é muito sinistro. Há mesmo cenas em que a violência é descrita, mas essa não é, penso, o que a história tem de mais violento. A violência física é “mero” reflexo de um ambiente sombrio que produz outras formas de coerção e desumanidade.
O fato de Luís André Nepomuceno ter arriscado um caminho diferente em sua ficção (pelo menos vejo assim) já é bacana.
sábado, 21 de março de 2009
LETRA DE MÚSICA (6)
Vivemos para compor lembranças.
Vive quem relembra, vive quem sabe compor lembranças.
Não viveu quem não tem o que lembrar.
Não viveu quem não quis a beleza.
Faltou perfeição para quem não quebrou a cara.
Nada mais sem graça do que não cantar desafinado.
Não viveu quem não quis contar aquele detalhe daquela canção,
quem não se sentiu invadido pelo belo,
quem não jogou no lixo a bobeira que pensara ser genial.
Não viveu quem não conheceu a comédia.
Não viveu quem não conheceu a tragédia.
Quem não amou não nasceu.
Vive quem relembra, vive quem sabe compor lembranças.
Não viveu quem não tem o que lembrar.
Não viveu quem não quis a beleza.
Faltou perfeição para quem não quebrou a cara.
Nada mais sem graça do que não cantar desafinado.
Não viveu quem não quis contar aquele detalhe daquela canção,
quem não se sentiu invadido pelo belo,
quem não jogou no lixo a bobeira que pensara ser genial.
Não viveu quem não conheceu a comédia.
Não viveu quem não conheceu a tragédia.
Quem não amou não nasceu.
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sexta-feira, 20 de março de 2009
LANÇAMENTO DE LIVRO
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Luís André Nepomuceno,
Os anões
quarta-feira, 18 de março de 2009
POEMETO DE VERÃO
Esse vestido que te deixa faceira.
Esse calor que te deixa trigueira.
E eu aqui dando bobeira...
Esse calor que te deixa trigueira.
E eu aqui dando bobeira...
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Poesia
ÀS VOLTAS
No balão da praça,
o casal se beija,
para fazer girar
o mundo a seu redor.
o casal se beija,
para fazer girar
o mundo a seu redor.
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segunda-feira, 16 de março de 2009
LANÇAMENTO DE LIVRO
No dia 28 de março (um sábado), às 20h, Luís André Nepomuceno lança o livro “Os anões”, no Auditório do Colégio Marista. É seu terceiro livro de ficção, todos lançados pela Editora 7Letras, por intermédio da qual já saíram “Antipalavra” (2004) e “A lanterna mágica de Jeremias” (2005).
O evento tem promoção e apoio da Editora 7Letras, Prefeitura de Patos de Minas e Colégio Marista. Em breve, este blogue publica entrevista com o autor.
O evento tem promoção e apoio da Editora 7Letras, Prefeitura de Patos de Minas e Colégio Marista. Em breve, este blogue publica entrevista com o autor.
LETRA DE MÚSICA (5)
Durante mais ou menos um ano, em meados da década de 90, cheguei a fazer aulas de violão clássico. Eu era péssimo aluno, pois não treinava em casa. Ainda assim, o professor Eduardo Barcellos (Dunga) e eu tivemos profícuos diálogos sobre música. Dunga é atualmente professor do conservatório aqui em Patos de Minas.
Numa das aulas, perguntei se ele toparia musicar um de meus textos. Ele abarcou a ideia. Levei duas letras. Diante das folhas de papel, ele disse: “Só de bater o olho já sei que esta aqui vai ser mais fácil de ser musicada”. Curiosamente, na hora da execução do trabalho, deu-se o inesperado: a que ele pensava que seria a mais fácil, nem musicada foi.
A letra é na verdade um poema escrito por mim. Cheguei a publicá-lo em meu primeiro livro, Leve Poesia, lançado em 2000. Houve pequenas alterações no texto em função da melodia. O título do poema (e da canção) é Ausências. Agradeço demais ao Dunga pelo privilégio que me concedeu de ter um texto meu musicado por ele.
Dunga cantou e tocou violão. Seu irmão, Leonardo Barcellos, tocou violino e teclados. Abaixo, a letra da canção. Caso você queira recebê-la, deixe um recado com seu e-mail (que não será publicado) e lhe envio o áudio da canção.
Numa das aulas, perguntei se ele toparia musicar um de meus textos. Ele abarcou a ideia. Levei duas letras. Diante das folhas de papel, ele disse: “Só de bater o olho já sei que esta aqui vai ser mais fácil de ser musicada”. Curiosamente, na hora da execução do trabalho, deu-se o inesperado: a que ele pensava que seria a mais fácil, nem musicada foi.
A letra é na verdade um poema escrito por mim. Cheguei a publicá-lo em meu primeiro livro, Leve Poesia, lançado em 2000. Houve pequenas alterações no texto em função da melodia. O título do poema (e da canção) é Ausências. Agradeço demais ao Dunga pelo privilégio que me concedeu de ter um texto meu musicado por ele.
Dunga cantou e tocou violão. Seu irmão, Leonardo Barcellos, tocou violino e teclados. Abaixo, a letra da canção. Caso você queira recebê-la, deixe um recado com seu e-mail (que não será publicado) e lhe envio o áudio da canção.
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Ausências
A ausência que agora sinto
se faz em três:
a sua ausência aqui,
a ausência minha aí,
a ausência nossa em nossos lugares.
Outrora nunca poderia eu imaginar
que a ausência possui divisões.
O amor que crescia
não podia ser assim decomposto
de forma tão ligeira.
Herdeiro de ausências,
me distraio, tentando compor assim
o esquecimento.
Ainda atordoado,
pressinto um sentimento
que o passar dos anos
talvez não aniquile.
A ausência que agora sinto
se faz em três:
a sua ausência aqui,
a ausência minha aí,
a ausência nossa em nossos lugares.
Outrora nunca poderia eu imaginar
que a ausência possui divisões.
O amor que crescia
não podia ser assim decomposto
de forma tão ligeira.
Herdeiro de ausências,
me distraio, tentando compor assim
o esquecimento.
Ainda atordoado,
pressinto um sentimento
que o passar dos anos
talvez não aniquile.
quinta-feira, 12 de março de 2009
A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (49)
Marcos Kim, fotógrafo, escreveu frase que gosto muito de citar: “Existem dois tipos de fotografia – as difíceis de tirar e as muito difíceis de tirar”. A foto acima foi muito difícil de tirar.
Num mundo utópico, o pica-pau estaria numa árvore; haveria, quem sabe, um poderoso céu azul ao fundo... Ainda assim, apesar de o bicho estar num cenário feio e apesar do fundo esbranquiçado, eu quis registrar a cena. O sol estava à esquerda, de modo que a luz não incidia diretamente sobre a ave.
Pude tirar várias fotos. Nas primeiras, deixei a câmera na prioridade abertura e compensei o flash para +2, a fim de produzir o brilho nos olhos e tentar jogar luz sobre o pica-pau. Como eram fotos em que o assunto principal (no caso, a ave) estava contra forte luz, ele estava ficando subexposto (escuro, com pouca luz sobre ele), mesmo eu tendo compensado o flash. Então, mudei a tática: coloquei a câmera na exposição manual, cancelei a compensação do flash e compensei a exposição para +2 (baixando a velocidade). Usei 1/250 de velocidade; de abertura, F/5,7; ISO 80.
Eu sei que isso produziria um céu mais branco ainda. Contudo, foi a alternativa que achei, pois eu não estava usando flash externo, o que me impedia de ter uma luz mais potente incidindo sobre o pica-pau.
Num mundo utópico, o pica-pau estaria numa árvore; haveria, quem sabe, um poderoso céu azul ao fundo... Ainda assim, apesar de o bicho estar num cenário feio e apesar do fundo esbranquiçado, eu quis registrar a cena. O sol estava à esquerda, de modo que a luz não incidia diretamente sobre a ave.
Pude tirar várias fotos. Nas primeiras, deixei a câmera na prioridade abertura e compensei o flash para +2, a fim de produzir o brilho nos olhos e tentar jogar luz sobre o pica-pau. Como eram fotos em que o assunto principal (no caso, a ave) estava contra forte luz, ele estava ficando subexposto (escuro, com pouca luz sobre ele), mesmo eu tendo compensado o flash. Então, mudei a tática: coloquei a câmera na exposição manual, cancelei a compensação do flash e compensei a exposição para +2 (baixando a velocidade). Usei 1/250 de velocidade; de abertura, F/5,7; ISO 80.
Eu sei que isso produziria um céu mais branco ainda. Contudo, foi a alternativa que achei, pois eu não estava usando flash externo, o que me impedia de ter uma luz mais potente incidindo sobre o pica-pau.
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terça-feira, 10 de março de 2009
FOTOPOEMA 60
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segunda-feira, 9 de março de 2009
FOTOPOEMA 59
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domingo, 8 de março de 2009
"PROS QUE ESTÃO EM CASA"
Assisti há pouco, pelo Canal Brasil, a uma apresentação de Toni Platão. Os fãs do pop/rock Brasil da década de 80 se lembram de que ele era o vocalista da banda Hojerizah, que teve o sucesso “Pros que estão em casa”.
O filme é em preto-e-branco, e Toni Platão canta na maioria do tempo vestido de terno. Como o formato é praticamente acústico, vem à tona o excelente intérprete que ele é. De “Because the night”, do Bruce Springsteen, a “Louras geladas”, do RPM, Platão solta sua potente voz.
Com Dado Villa-Lobos (que foi guitarrista da Legião Urbana), ele cantou “Tudo que vai”, sucesso do Capital Inicial (confesso que só agora, na interpretação de Platão, é que me dei conta da beleza da letra da canção). Zélia Duncan participou em “A falta”, versão (do próprio Toni Platão) de “Without you”, sucesso com Nilson, Mariah Carey e tantos outros. Fausto Fawcett (aquele mesmo da banda Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, do sucesso “Kátia Flávia”) participou em “Calígula Freejack”.
Os arranjos são outro grande ponto da apresentação. Flertam com o jazz em “Louras geladas” ou com o tango em “Amor, meu grande amor”, da Ângela Ro Ro, também gravada pelo Barão Vermelho.
Tudo isso e mais pode ser conferido em DVD (que quero mesmo adquirir), cujo título é “Pros que estão em casa”. Teatralidade, boa música e excelente interpretação garantem o prazer.
O filme é em preto-e-branco, e Toni Platão canta na maioria do tempo vestido de terno. Como o formato é praticamente acústico, vem à tona o excelente intérprete que ele é. De “Because the night”, do Bruce Springsteen, a “Louras geladas”, do RPM, Platão solta sua potente voz.
Com Dado Villa-Lobos (que foi guitarrista da Legião Urbana), ele cantou “Tudo que vai”, sucesso do Capital Inicial (confesso que só agora, na interpretação de Platão, é que me dei conta da beleza da letra da canção). Zélia Duncan participou em “A falta”, versão (do próprio Toni Platão) de “Without you”, sucesso com Nilson, Mariah Carey e tantos outros. Fausto Fawcett (aquele mesmo da banda Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, do sucesso “Kátia Flávia”) participou em “Calígula Freejack”.
Os arranjos são outro grande ponto da apresentação. Flertam com o jazz em “Louras geladas” ou com o tango em “Amor, meu grande amor”, da Ângela Ro Ro, também gravada pelo Barão Vermelho.
Tudo isso e mais pode ser conferido em DVD (que quero mesmo adquirir), cujo título é “Pros que estão em casa”. Teatralidade, boa música e excelente interpretação garantem o prazer.
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sexta-feira, 6 de março de 2009
FOTOPOEMA 56
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FOTOPOEMA 55
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A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (48)
Tirei esta foto no dia 17 de agosto de 2004. A imagem foi feita com a primeira câmera digital que comprei. Foi nessa época que comecei a me dedicar novamente à fotografia. Na adolescência, eu já havia fotografado muito, mas depois deixei de lado.
Quanto à nuvem, eu a vi por volta de 11h50. Eu estava de moto. Assim que avistei a beleza no céu, passei a procurar um ângulo em que fosse possível fotografá-la em sua inteireza – é que postes, fios ou prédios impediam o enquadramento ideal.
Ao mesmo tempo, eu tinha de ser rápido, pois logo a nuvem mudaria o formato ou mesmo se desfaria. Minutos se passaram; às 11h56, cliquei, já estando aqui perto de casa, na Duque de Caxias.
Quanto à nuvem, eu a vi por volta de 11h50. Eu estava de moto. Assim que avistei a beleza no céu, passei a procurar um ângulo em que fosse possível fotografá-la em sua inteireza – é que postes, fios ou prédios impediam o enquadramento ideal.
Ao mesmo tempo, eu tinha de ser rápido, pois logo a nuvem mudaria o formato ou mesmo se desfaria. Minutos se passaram; às 11h56, cliquei, já estando aqui perto de casa, na Duque de Caxias.
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terça-feira, 3 de março de 2009
FOTOPOEMA 54
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domingo, 1 de março de 2009
FOTOPOEMA 53
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