sexta-feira, 31 de outubro de 2008

DESENHO 2

Na adolescência, interessei-me pelo Renascimento; interessando-me pelo Renascimento, tornei-me interessado em Leonardo da Vinci; interessando-me por Da Vinci, rabisquei os traços acima. O desenho original está num livro chamado “O pensamento vivo de Leonardo da Vinci”; em meados da década de 80, a coleção O Pensamento Vivo, publicada pela Martin Claret, era vendida em bancas de revista. Cheguei a ter a coleção quase completa. Os livros tinham a intenção de sintetizar e popularizar as idéias de ícones do conhecimento em diversas áreas. Foram um bom incentivo para que depois eu conhecesse mais sobre alguns deles. Fiz o desenho no dia 31 de março de 1986.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CALOR

Tanto o calor,
que derreteu o vento.
O calor levou embora
o sopro de esperança
e fez arder o último suspiro.

Tudo foi rachado.
Até a secura dos homens
comportou-se como
manteiga derretida.


terça-feira, 28 de outubro de 2008

JOGO

Tenho-te em carne
e em espírito.
Tenho-te subjugada
e rainha, escrava e senhora.
És minha dona, e a ti ordeno.
Nesse jogo poderoso,
quando te mando,
tu me tens.

HORA DE VIVER

É madrugada. Irineu cria seu mundo. De dia, faz o que não gosta. Faz porque precisa sobreviver. De noite, inventa o que gosta. São 3h10. Ele precisa se deitar. Daqui a pouco, é hora de não viver.

LEITURAS

Leio à noite.
Logo,
leio a noite.

A LÚCIO COSTA


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ALTOS E BAIXOS

Hoje, na sarjeta.
Amanhã, na capa da revista de negócios.
Tudo útil – com ilusões também se aprende.

ÓRION

Órion era um gato preto. Acreditava que era na verdade uma daquelas majestosas panteras negras. Viveu as quatro últimas de suas sete longas vidas acreditando nisso e agindo como se assim fosse. Ele não sonhava em ser uma pantera – ele tinha certeza de que era uma. Por fim, sem mais vidas à disposição, morreu de verdade. Aqueles que o conheceram dizem que, para um gato, Órion fez coisas espantosas.

domingo, 26 de outubro de 2008

GRUPO AMARANTO EM PATOS DE MINAS

Hoje, mais cedo, entre 20h15 e 21h05, assisti a um belo show na Praça do Fórum, aqui em Patos de Minas, com o grupo Amaranto.

Estão em turnê por cidades de Minas Gerais. Uberaba, Patos de Minas, Ituiutaba, Uberlândia, Nova Serrana e Pará de Minas são as cidades que estão recebendo o Amaranto.

O grupo é formado por Flávia da Cunha Ferraz Guedes, Marina da Cunha Ferraz e Lúcia da Cunha Ferraz. Em Belo Horizonte, as três irmãs cresceram em ambiente musical.

Turnê Três Pontes – Amaranto para crianças de todas as idades é um delicado e envolvente show para crianças. O palco é simples: um pano preto ao fundo. Sobre este, panos retangulares e floridos. Nos arranjos, as três afinadíssimas irmãs tocam violão e flauta; são também responsáveis pela sutil e bela percussão. Também no palco, o baixista Tiago Godoy, autor de algumas das canções que fazem parte do espetáculo.

Caso se interesse, vá até o Youtube, digite "Amaranto" e confira trechos de apresentações do grupo.

GOTEIRA


APONTAMENTO 38

De vez em quando, eu me esqueço de que existe um negócio chamado Youtube. Na madrugada que passou, após conferir música ao vivo num dos bares da cidade, cheguei aqui e fui conferir alguns vídeos lá, após conversa com Érico, que toca violão e canta; ele também estava conferindo a música ao vivo no bar; chegou a dar uma breve canja.

Conferi os seguintes vídeos:

• Carole King – City Streets (clipe e versão ao vivo)
• Bruce Springsteen – Tougher than the rest (versão ao vivo)
• Waysted – Heaven tonight (clipe e versão ao vivo)
• Alphaville – Forever young (Uma de minhas preferidas na época; nunca havia assistido ao clipe.)
• Falco – Rock me Amadeus – versão original e versão remixada (Idem.)

A tecnologia está naturalmente associada a novidades; por outro lado, um dos grandes baratos dela é a possibilidade de acesso ao passado que ela permite.

APONTAMENTO 37

O paradão do domingo aumenta o calorão de todos os dias.

sábado, 25 de outubro de 2008

A OSCAR NIEMEYER

DESENHO 1

A juventude é cheia de ímpetos. Alguns deles, vistos à distância, soam engraçados. Um de meus rompantes juvenis foi o de tentar ser desenhista (sic). Hoje, mexendo em velhos papéis, eu me deparei com dois cadernos de desenhos. Na época, o grande sonho era desenhar utilizando pena de bico fino e tinta nanquim. Fiz a encomenda numa das lojas da cidade e fiquei aguardando. Durante semanas e semanas, fui até a loja, sempre com a mesma pergunta: “Chegou?”. A resposta era sempre a mesma: “Não”. Por fim, desisti. E quem não tem pena de bico fino desenha com lápis comum; foi o que fiz na época.

O desenho acima é uma das conseqüências dos rompantes juvenis. A ilustração estava numa velha revista que encontrei em antigo local de trabalho, enquanto o ambiente passava por limpeza. Eu tinha uns 12 anos. A ilustração fazia parte de uma matéria intitulada “Gênios idiotas”, sobre aquelas pessoas que realizam complexos cálculos matemáticos rapidamente, mas são incapazes de efetuar cálculos simples. Devo ter essa revista em algum lugar aqui em casa. A linha editorial dela era o que posteriormente eu conferiria na Superinteressante, ainda na década de 80. Fascinado pela matéria sobre os “gênios idiotas” e querendo ser desenhista, é claro que mal esperei chegar em casa para copiar a meu modo a ilustração. Caso eu ache a revista, publico o nome do autor do desenho original.

Digitalizei a imagem, cujo original já está amarelecido; em programa de edição de fotos, escureci as linhas. Não houve outros retoques. Fiz o desenho no dia 23 de fevereiro de 1986.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A FREUD

CONTO 27

Quando Sofia escutou Fábio dizer “o amor é isto mesmo – as miudezas que fazemos por amor, que confere significado especial àquilo que, sem ele, seria apenas mais um gesto banal. As coisas em si não têm encanto. Passam a ter quando enxergadas por um olhar amoroso. O estar numa lanchonete tomando um suco torna-se pleno de sentido. A rigor, uma lanchonete como qualquer outra. Por ter o lugar alguma (ainda que mínima) ligação com a pessoa amada, torna-se especial. Assim o amor faz com tudo: vai estabelecendo e ampliando as relações, os elos, até o ponto em que uma pulga, uma cadeia montanhosa ou um filme faz com que nos lembremos da pessoa amada”, ela olhou para ele com um olhar deliciosamente maroto e disse: “Isso é lindo; quero anotar depois, mas o que quero agora é que você me beije”.

A CAMÕES


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

CINEMA BRASILEIRO NA CNN

A CNN Internacional, rede de televisão que transmite notícias para o mundo todo, tem um programa chamado “The Screening Room”. A idéia é mostrar o que cineastas de toda parte têm feito. O programa de hoje focalizou o cinema que tem retratado as favelas no Rio de Janeiro. A atração está disponível na página da CNN.

Não se trata de dor-de-cotovelo, mas literatura e cinema brasileiros têm feito da violência urbana a temática a ser tratada. Obviamente, não há como ignorá-la. Além do mais, se essa temática tem garantido audiência e vigor ao cinema nacional, é compreensível que cineastas, produtores e patrocinadores a busquem.

Além da temática da violência urbana ou dos bailes funk no Rio de Janeiro, eu gostaria de ver no circuito de cinemas comerciais mais aspectos dos outros Brasis. Somos mais, muito mais do que a violência no Rio ou os bailes funk (nada contra os bailes). A violência não está só no Rio. Está também nos rincões. Além do mais, há outras temáticas que poderiam ser tratadas de modo rentável. Parece-me excessiva a insistência em fazer de bailes funk ou da violência urbana o ganha-pão do cinema nacional. O Brasil não é somente isso. Que o sucesso do cinema feito por aqui não seja passageiro. É claro que desejo que ele continue tendo cada vez mais êxito, assim como desejo ir ao cinema ou ligar a televisão e assistir a mais facetas do Brasil.

CONTO 26

Betânia, casada com João, e Amanda, casada com Luís, têm dois pontos em comum. O primeiro: não são correspondidas no fervoroso e devotado amor que sentem. O segundo: amam a mesma pessoa – Márcia.

A BORGES




A NERUDA


terça-feira, 21 de outubro de 2008

A FOULCAULT


A MANUEL BANDEIRA


A PROUST


A JOHN LENNON




A RAUL SEIXAS


APONTAMENTO 36

É no corpo que o amor começa a ser sublime.

MÉTODO

Estou fazendo testes, escrevendo sem pensar no que está sendo feito. Estou tentando, por assim dizer, soltar a mão. Quando termino, hora de reler. De vez em quando, do palavrório caótico, tem saído uma frase que considero valer a pena. Preciso aprender a pensar menos...

sábado, 18 de outubro de 2008

ROUPAGEM

Gosto quando me vestes, quando me revestes.
Gosto quando me cobres com roupa.
Gosto quando me cobres sem roupa,
com teu corpo quente de amor.

Teu corpo é roupa ideal para o meu.
Tua pele, o tecido mais gostoso.
Visto-me de ti e devoro o que visto.

PREFIXO

Quando não escrevo,
prendo-me.
Quando escrevo,
aprendo-me.

URBANO

O fedor no bueiro
é a cidade com mau hálito.

APONTAMENTO 35

Súbito, surge um texto que tem pressa de ser escrito. Apanho pedaço de papel qualquer. Para apoiá-lo, pego uma revista e começo a escrever ligeiro, afoito para jogar no papel as idéias. De repente, leve susto, suspensão; paro de escrever. Da capa da revista, Shakespeare a me decifrar.

APONTAMENTO 34

O segredo é dar o pontapé inicial. Só que não sei onde está a bola...

CRIADOR

Quando crio, sou deus.
Deus pequeno – mas deus.

Criar é estar perto de Deus?
Criar é estar perto de Zeus?

APONTAMENTO 33

Com freqüência, a poesia me ocorre. Mas nem sempre se torna ocorrência.

FLERTE

No ar,
pesco tuas intenções.
Em tua boca,
saboreio tuas intenções.

LAVOURA / FOTOPOEMA 32


18/10

Em meu aniversário,
disparei a fazer versos
madrugada adentro
(renascer faz bem).

A partir de hoje,
farei aniversário
todos os dias.

MAPEAMENTO

Irei até o fim
de teu corpo.
Quando ele acabar,
vou percorrê-lo
por outro caminho...

POEMA BARULHENTO

Ela diz que prefere o silêncio.
Ele diz que ela prefere é a mudez.
E o amor, nada diz.

APONTAMENTO 32

A mudez é meu jeito mais infame de dizer as coisas.

O LUGAR DO AMOR

O lugar do amor deveria ser em toda parte
Que chato o amor ter de se esconder
O lugar do amor é qualquer lugar

Amor urgente esquece tudo
Na claridade ou sobre o muro
No banco da praça ou no banco de trás
No calor do meio-dia ou no cinema

Amor não tem lugar, não tem hora
Para o amor, servem escadas, mangues, mesas
Amor não planejado não pensa em cama
Amor urgente dá um jeito, se vira
Amor urgente é no chão, no ônibus
Amor urgente se intromete em público
Amor urgente jura que está enganando os pais

Cheiros, línguas, mãos, bocas, sexos
O lugar do amor é quando o amor quer ser feito
O lugar do amor é todo mundo
O lugar do amor é o mundo todo
O lugar do amor é o corpo inteiro

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

APONTAMENTO 31

O calor tira as pessoas das tocas – e enche a noite de estrelas.

REUNIÃO

Eu deveria ter
mais reuniões
chatas e burocráticas.
Sempre que há uma,
escrevo um poema.

FOTOPOEMA 31

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CONTO 25

Após ter se separado do marido, Célia se recolheu. Conversa bem, é bonita. O recolhimento não impedia que ela recebesse propostas quase que diariamente. Quando por fim aceitou uma delas foi com a decisão de manter namoro firme com um colega de trabalho. Depois de três anos, terminaram. Desde então, Célia passou a manter relacionamentos efêmeros e variados. Considera-se antiga diante das práticas da modernidade. Só topou participar do jogo depois de assumir para si mesma que não suporta a solidão.

... E GRANDE ELENCO

Crianças se maravilham facilmente. Quando pequeno, eu ficava impressionado com a capacidade que meu pai tinha de saber os nomes dos atores da televisão, ainda mais que ele não assistia às novelas.

Eu achava alguns nomes muito bonitos. Berta Loran era um deles. Com alguns, eu me enganei: certa vez, ao ver um ator em cena, perguntei para meu pai o nome do artista. “Ele se chama Ney Latorraca”. Na ocasião, fingi que tudo estava bem; não contei para o meu pai a surpresa que tive ao descobrir que aquele ator se chamava Ney Latorraca. Para mim Ney Latorraca era nome de mulher – é que eu pensava que a grafia do nome era Neila Torraca...

Sempre que alguma novela iria começar, havia as chamadas: Nesta segunda, estréia a próxima novela das oito, com Fulano, Beltrano, Sicrano e grande elenco. Quando eu escutava as chamadas, eu pensava que grande elenco era... o nome de algum ator.

Ora, eu já sabia da existência do Grande Otelo. Em minha lógica infantil, se havia Grande Otelo, poderia haver Grande Elenco.

Eu invariavelmente assistia ao começo das novelas para tentar identificar quem seria o tal do Grande Elenco. Afinal, ele estava em todas! Depois de exaustivas e infrutíferas tentativas, foi que decidi, intrigado, perguntar a meu pai quem era aquele ator. Rindo muito, ele me explicou o significado da palavra elenco.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CIRCENSE

Mirar-me
no trapezista.

A experiência
não garante
perfeição
sempre.

Mirar-me
no trapezista.

Entregar-me ao risco
sem rede de proteção.

Mirar-me no trapezista:
abrir mão de tudo.

Mirar-me no trapezista:
contar com um aperto de mãos.

FOTOPOEMA 30

terça-feira, 14 de outubro de 2008

CONTO 24

Sebastiana tinha consigo que se casara com Júlio por rebeldia. A mãe dela havia dado a ordem para que ela terminasse o namoro e que escolhesse alguém rico. Para provocar, Sebastiana se casou com Júlio o mais rápido que conseguiu. Dezoito anos depois, ao descobrir que o marido mantinha há tempos um caso com uma amiga dela, Sebastiana o mandou embora. Nos dias de solidão que se seguiram, ela perceberia que a escolha de dezoito anos atrás havia sido mais amorosa do que rebelde.

CORAL

O galo canta.
A cigarra canta.
E eu no meu canto.

INTERAÇÃO

domingo, 12 de outubro de 2008

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (41)


TELA EM BRANCO

Vontade de ficar o dia inteiro digitando palavras.
Desejo, ânsia, gana de ver palavras,
de gerá-las, de olhar para uma ao lado de outra,
de encher a tela do computador de sentido,
de mim, de imaginação e de literatura.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

APONTAMENTO 30

ENTRE COISAS

Aprender o valor das coisas.
Tratá-las com capricho.
Acomodá-las em mim.

Uma casa, uma rua, um pedaço de pano...
O tangível que súbito estremece
a intangível memória,
que num átimo pode
nos deixar inundados
de quem somos.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ÀS CLARAS

Gosto de
revelar os truques,
divulgar as manhas,
destapar os artifícios,
expor a feitura.

Feito isso, aí, sim,
tem começo o mistério.

INTERAÇÃO

Eu e a caneta,
que corre sobre
o papel.
O auge de
minha história.

FOTOPOEMA 27 / HAICAI 11

Neste blog, publico fotos de minha autoria. A exceção é esta, que foi tirada por Shírley Aceval. Não há cláusula que impeça um fotógrafo de tirar um auto-retrato enquanto nada, desde que haja por perto um tripé para a câmera e alguma paciência. Ainda assim, preferi pedir à Shírley que tirasse a foto.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

REVISTA SAGARANA

Recebi hoje a revista Sagarana. O slogan da publicação é preciso: Turismo e cultura em Minas Gerais. Cézar Félix é o editor. Além dos textos, belas imagens podem ser observadas – Henry Yu é o editor de fotografia.

Sempre gostei de cheiro de papel. Cheiro indiscriminadamente livros e revistas, não importa se novos ou velhos. Digo isso pelo seguinte: a Sagarana não somente revela as riquezas humanas e ambientais de Minas: ela é a revista com o cheiro mais gostoso a que já tive acesso.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

CONTO 23

A carência em que Edna vive faz com que ela nunca saiba com exatidão que atitudes tomar. Está sempre indecisa quanto a sentimentos e ações. Se de repente se pega imensamente atraída, atribui a atração à carência, convencendo-se de que não fosse ela, a carência, não teria sentido a atração. Assim, Edna não se entrega. Acha injusto para com quem quer que seja se entregar por estar se sentindo carente. Não se entregando, não tem ninguém; não tendo ninguém, sente-se carente. Vive num círculo vicioso repleto de endríagos e íncubos.

CONTO 22

Hélio e João Pedro; pai e filho. Mantiveram sempre um relacionamento frio. João Pedro, secretamente, acusava o pai de ser o culpado de sua triste infância. Hélio maltratava Mariana, a esposa. Com o filho, era frio. O grande sonho de João Pedro era fazer medicina. Quando se tornasse médico, levaria a mãe embora daquele mundo arcaico. O ranço quanto ao pai não dava trégua. No dia em que João Pedro, do quarto, pôde escutar o pai comentando ao telefone que caso o filho se tornasse médico ele seria o pai mais feliz do mundo, João Pedro decidiu com maior firmeza. Passou a estudar ainda mais, fez vestibular e se tornou arquiteto, para não conceder ao pai a alegria de ter um filho médico.

FOTOPOEMA 26 / HAICAI 10


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

APONTAMENTO 29

Leio para ir mais longe em mim.
Indo mais longe em mim,
estarei mais perto de ti.

domingo, 5 de outubro de 2008

HAICAI 9

Fazem os gatos
amor, barulho e gatinhos.
Amantes natos.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS EM PATOS DE MINAS

Terminada a apuração dos votos em Patos de Minas, Béia Savassi se tornou a primeira mulher a ser eleita prefeita da cidade. O resultado foi o seguinte:

Béia Savassi: 37.288 (49,71% dos votos válidos)
José Humberto: 31.860 (42,47% dos votos válidos)
Jader Carvalho: 5.869 (7,82% dos votos válidos)

Em tempo: algo que ocorre em toda parte (não falo somente daqui) é o fervor bobo com que alguns eleitores se entregam à defesa dos candidatos em que vão votar. Em nome desse fervor, ataques pessoais são feitos, tiros são dados. Pura bobagem. Se esses eleitores dessem um voto a si mesmos, antes de defenderem tolamente seus candidatos, muita besteira poderia deixar de ser feita.

O comportamento de alguns eleitores chega a me lembrar a maneira hedionda com que numerosos torcedores de futebol expressam a paixão que dizem ter por seu time.

CONTO 21

A grande paixão de Mineiro sempre havia sido o futebol. Quis ser jogador. Não conseguiu. Quis ser treinador. Não conseguiu. Quis ser locutor de futebol. Não conseguiu. Quis ser comentarista de futebol. Não conseguiu. Conseguiria ser um torcedor atípico. Com o futebol, sonhava. No futebol, pensava o tempo todo. Só falava de futebol. Deixou o emprego e passou a se dedicar somente à paixão que sentia pelo jogo. Veio o dia em que tomou a decisão: hoje, caminha o dia inteiro por toda a cidade. Usa invariavelmente o uniforme do Peñarol, do Uruguai. Durante todo o tempo em que caminha, narra com voz forte impossíveis e emocionantes partidas de futebol. Caminho afora, os gols vão surgindo.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (41)

Tirei esta foto no dia 17 de junho de 2006, às 15h58. Eu estava em Três Marias/MG, após ter ido a Cordisburgo/MG, a fim de visitar a Gruta de Maquiné. A escala em Três Marias foi realizada porque os estudantes da excursão em que embarquei queriam conhecer a usina hidrelétrica da cidade. A princípio, não gostei da idéia, pois estava com pressa de chegar a Patos de Minas.

Casmurro, desci do ônibus. Um belo rio já podia ser visto. Em minha ignorância, eu não sabia que rio era aquele. Quando me disseram que era o São Francisco, fui logo tratando de tirar fotos; a ida a Três Marias já tinha valido a pena.

O objetivo da parada na cidade era visitar as instalações da usina. Olhando em torno, vi profusão de garças e cormorões. Minha visita ao complexo da usina ficaria para uma outra oportunidade – que ainda não veio. O que fiz mesmo foi tirar várias fotos das aves no fim de tarde, diante das águas do São Francisco.

A foto acima foi tirada enquanto um guia da usina explicava os cuidados que deveriam ser tomados antes que entrassem nas dependências da usina.

sábado, 4 de outubro de 2008

NOITE BRANCA

Tão bonito,
esse branco da folha
lisa e imaculada.
Bobagem palavra qualquer
a conspurcar sua magnitude.
Se for para preenchê-lo,
que se faça jus à sua grandeza.
Com medo de estragá-lo
e com reverência,
contemplo pacientemente.
Minutos vão se passando,
e uma poesia branca
como papel sem literatura
toma conta de minha vida.

UM BRINDE

Ao preencher os marcadores da postam anterior, quando fui digitar o nome do diretor Tim Burton, surgiu o nome de Tim Maia, por ele já ter sido mencionado neste blog.

Só então me dei conta de que o nome artístico é o mesmo! Daí, não resisti...

Tim-Tim:
Maia e Burton.

NAS ALTURAS

Há pouco, assisti novamente a “Peixe grande” (2003), do diretor Tim Burton. A história é baseada no livro "Big fish: a novel of mythic proportions", de Daniel Wallace. O filme tem uma deliciosa mistura entre ficção e realidade. Há momentos que fazem lembrar o chamado realismo mágico.

Um dos personagens é Karl, interpretado por Matthew McGrory, que morreu em 2005. Segundo li, Mcgrory media mais de sete pés. Sete pés são equivalentes a dois metros e treze. Como a informação que li dizia “mais de sete pés”, não sei precisar a altura.

Assim que o filme terminou, liguei o computador. Leio notícia de que Bao Xishun, considerado o homem mais alto do mundo (dois metros e trinta e seis), tornou-se pai. Ainda de acordo com a notícia, o filho dele, embora maior do que a média, está longe dos setenta e cinco centímetros já verificados – o filho de Xishun mede cinqüenta e seis centímetros.

Não sei se ainda inebriado pela atmosfera de “Peixe grande”, mesmo após ver a foto de Xishun observando seu bebê, não consigo tirar da cabeça a imagem de Karl no filme.

Em tempo: a esposa de Xishun mede um e sessenta e oito.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

CARÁTER LITERÁRIO

1

Não queria uma poesia
que se volta para si.
Não me volto para
a metalinguagem,
queria abandoná-la.
Mas ela não me deixa.
Eu não queria,
mas sou metalingüístico.
Meus escritos
se voltam para si.
Minha existência
se volta para mim.

2

O buço dela me remete
a um buço descrito em Kundera.
A vida me remete à literatura
ou a literatura me remete à vida?

Adquiri um jeito literário
de olhar, de falar, de pensar, de sentir.
Sou conseqüência literária.


A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (40)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

QUEM DIRIA...

Meados da década de 80. Quando o rádio começava a tocar “More than I can bear”, do Matt Bianco, eu dava um jeito de mudar a sintonia. Eu não gostava mesmo da canção. Agora, estou a escutando numa emissora do Rio de Janeiro. E quer saber? Um barato. Enquanto batuco palavras neste velho computador, estou até mexendo o corpo na (agora) gostosa levada da canção...

HAICAI 8

As horas nuas,
são todas elas
somente tuas.

APONTAMENTO 28

Ouvi aluno meu dizendo que adquiriu o hábito da leitura depois de ter encarado “O código da Vinci”. Lembro-me de ter visto esse mesmo aluno dizer que havia gostado de “Dom Casmurro”. Também disse que tem a série Harry Potter, mas não percorreu os livros ainda. Recentemente, leu “O velho e o mar”.

Vejo com bons olhos esse começo de leituras sem critério. Ainda que o estudante não saiba ainda diferenciar com clareza, por exemplo, Dan Brown de Machado de Assis, no que diz respeito à literariedade, o hábito da leitura, caso se mantenha, pode fazer com que a percepção dele vá se tornando cada vez mais requintada. É uma possibilidade.

É por isso que não concordo muito com aqueles que simplesmente abominam os chamados best-sellers. Penso ser necessário ler, seja o que for. Se pelo menos uma das milhares e milhares de pessoas que se entregam a modismos passarem a ler textos que se tornaram perenes, após ter descoberto o gosto da leitura por intermédio dos best-sellers, já está ótimo.

Além do mais, esses livros de vendagem estrondosa são lucro certo para as editoras e para as livrarias. É preferível haver uma livraria lucrando com “O segredo”, desde que também coloque à disposição outras vertentes, a não haver livraria nenhuma. Clássicos imprescindíveis não garantem a sobrevivência dos livreiros, principalmente no interior.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

VÍDEO 4

O vídeo abaixo já havia sido postado, só que sem meu comentário. Deletei a versão anterior. Abaixo, versão atualizada, com comentário.

CONTO 20

Desde quando veio ao mundo, Isa tem a seu favor a imensa beleza. Os mais entusiastas não vacilam em dizer que ela é a mulher mais linda que já existiu em todos os tempos, em todos os lugares. Ela mesma não concorda com os elogios. Certo é que muito homem já se perdeu por causa dela, que no fundo não deixa de achar tudo isso meio engraçado. Todas as portas se abrem mansas para ela, que espontaneamente não dá a mínima. O mais recente a se apaixonar por ela foi Vilmar, dono de uma importadora de carros em Belo Horizonte. Como os anteriores, foi rechaçado. O primeiro e único a ganhar o coração de Isa foi Nestor. De pronto, ela se mudou com ele para as proximidades de Pindaíbas/MG, onde levam uma vida discreta e rural.