Prefeitos e governadores Brasil afora, muitos deles assumida e orgulhosamente sabujos de Bolsonaro, não contam agora com a ajuda dele. O cotidiano do cidadão é vivenciado não por ele, mas por governadores e, mais em especial, por prefeitos. O encontro no dia a dia se dá com prefeitos, não com o presidente. Eles é que têm de se virar para resolver um problema que muitos deles ajudaram a intensificar, quando manifestaram profunda sintonia com o “ideário” do chefe do executivo federal.
Este texto não é para defender prefeitos. Reitero: muitos deles são obedientes ao que o “guru” presidencial determina. Há deles por aí, por exemplo, que fazem questão de serem fotografados ao lado dele, sem que ninguém, evidentemente, use máscara. Afinal, para esse tipo de gente, máscara é artefato que atrapalha a felicidade. Este texto é somente para dizer que os prefeitos que tanto se encantaram com o presidente agora têm de se virar por conta própria em suas aldeias.
É paradoxal, é verdade, mas, no Brasil, quanto mais alto o cargo, menos satisfações os altos escalões dão. Longe das vítimas, é fácil para alguém desses escalões falar que são “frescura” e “mimimi”, palavras usadas hoje pelo presidente [1], a revolta quanto ao número de mortos pela covid e as reações contra a falta de política federal ao lidar com a pandemia. O presidente sabe que ninguém vai argumentar contra ele, pois ele está blindado, e quando confrontado por alguma pergunta a que ele tem obrigação de responder, ele vai embora. Assim, é fácil.
Sobrou para os governadores e, nas esquinas das cidades, para os prefeitos. Tanto estes quanto aqueles foram criticados hoje pelo presidente [2], ou seja, muitos desses governadores e desses prefeitos foram criticados e são agora abandonados por quem tanto bajularam. Surfaram na onda do bolsonarismo, foram eleitos; agora, veem-se abandonados pelo “‘mito’”. Estão sozinhos, estamos sozinhos.
O presidente sabe que poucos estão comprometidos em fazer a parte que cabe a cada um quanto à evitação do contágio pelo coronavírus. Propagar uso de remédios que nada resolvem no que diz respeito a tratamento contra a covid é mais fácil do que assumir a responsabilidade do cargo. Em jogada demagógica, e, por isso mesmo, eficaz, Bolsonaro afirmou hoje que políticos devem ir “para o meio do povo” [3].
De minha parte, digo que seria melhor se ele não desse as caras em público e cuidasse daquilo que é obrigação dele há muito tempo, que é a de conduzir, pelo menos com respeito, o manejo da epidemia no Brasil. Mas, claro, sei que dele, nem respeito virá. O Brasil estaria melhor se ele ficasse calado num gabinete qualquer. Ele sabe disso.
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