Ontem, ao vivo em canais de TV, enquanto Trump estava dizendo haver fraude nas eleições dos EUA, âncoras e jornalistas entraram ao vivo durante a fala do político para dizer que ele não apresentara até então nenhuma prova do que estava dizendo. Do que não sei, pois não acompanho os canais que disseram que Trump mente ou blefa, é se eles estavam sendo cínicos como os daqui, que não moveram uma sobrancelha para desmascarar, por exemplo, coisas como mamadeira de piroca ou kit gay, e pousam agora de mocinhos preocupados com a democracia, fingindo não serem inescrupulosos.
À parte isso, se uma versão à brasileira do Trump, preferencialmente sem provas, disser por aqui que eleições estão sendo, foram ou serão fraudadas, minutos depois já haverá nas TVs, rádios e sites de notícias “analistas”, “comentaristas” e “especialistas” endossando esse hipotético Trump dos trópicos. Em termos técnicos, tudo é feito com esmero. Numa analogia, poder-se-ia dizer que a imprensa e os meios de comunicação brasileiros, em sórdida assepsia, são como o cidadão que, vestindo roupas caras, modulando gentilmente a voz e querendo transmitir ares de civilidade, sofisticação, competência, ética, honestidade e preocupação com o país, camufla vilezas e preconceitos. A maior parte do jornalismo brasileiro faz de conta que é combativa e republicana. Muitos acreditam.
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