Ontem, terminei o curso Forma e Estilo Cinematográficos, ofertado pelo crítico de cinema Pablo Villaça. Foi a primeira vez que ele ministrou as aulas online. São dez, cada uma delas com duração de duas horas. O curso aborda os aspectos técnicos que estão a serviço do que o cinema transmite. Embora, evidentemente, ele seja uma arte que pode ser apreciada por leigos, o curso de Pablo Villaça fornece ferramentas que possibilitam uma apreciação mais abrangente do que ocorre no universo de um filme.
Questões como forma e estilo, a diferença entre o gosto pessoal e o julgamento crítico, os elementos da narrativa cinematográfica, o cenário, o figurino e a maquiagem, a luz, a fotografia, a montagem e o som são debatidas. Enquanto vai analisando com olhar de lupa o que é peculiar de cada uma dessas áreas do cinema, Pablo Villaça ilustra as explicações com cenas extraídas de mais de uma centena de trechos de filmes, pertencentes a épocas e a gêneros variados.
O curso contagia não somente pelo vasto conhecimento que Pablo Villaça tem de cinema, não somente em virtude da paixão que ele tem por essa arte, mas também por uma faceta que o profissional tem e que eu não conhecia: ele é um excelente professor. É didático ao explicar, simplifica sem tornar as coisas simplórias e não tem afetação no tom de que se vale. Não bastasse, proporciona, em doses agradáveis, espontaneidade e humor.
Durante o curso, respondendo a mensagem enviada por mim, Pablo disse que antes de ser crítico de cinema, é escritor. Sobre a crítica tal qual escrita por ele, digo: o patamar a que Pablo elevou a crítica cinematográfica faz com que ela se torne um novo gênero (que ainda não sei nomear), sem, ao mesmo tempo, deixar de ser crítica cinematográfica. Como exemplo, cito o primeiro parágrafo do texto que Pablo Villaça escreveu sobre o filme A Chegada, do diretor Denis Villeneuve:
“Há amores tão imensos que insistimos em vivê-los mesmo sabendo que a experiência resultará inevitavelmente em dor. Não há razão que explique nossa decisão de abraçá-los e o fascinante é que, mesmo que houvesse, não a ouviríamos. São amores tão fortes que parecem existir fora do tempo: não nos lembramos de como éramos antes deles e nem conseguimos nos imaginar como seríamos (ou seremos) depois”.
O sentido do parágrafo é amplificado quando já sabemos o enredo do filme; todavia, mesmo sem saber do que trata A Chegada, o trecho que separei existe por si, é belo por si, independe do filme a que se refere. Nesse sentido, é que advogo o pensamento de que a contribuição de Pablo Villaça para a crítica cinematográfica vai além dela como gênero textual (o que, em si, já é uma enorme e formidável contribuição para a cultura). Ele adentra um território que não é o da crítica, ou, para dizer de um jeito melhor, um território que não é unicamente o da crítica, que, se escrita por ele, pode ter humor, análise detalhada, aguda percepção psicológica ou lirismo em textos que primam por uma linguagem cujo estilo é de elegância rara, literária. (Vale lembrar que além de escrever sobre cinema, Pablo Villaça, em suas redes sociais, publica textos sobre política e sobre sua vida pessoal.)
A primeira vez que escutei falar do Pablo Villaça, quem o mencionou foi o Adriano, um colega de trabalho que tive e que já acompanhava o que o crítico escrevia. Não lembro há quantos anos isso se deu; do que sei, é que desde então venho acompanhando o legado que Pablo Villaça tem produzido. Quando ele anunciou que faria uma versão online do curso Forma e Estilo Cinematográficos, eu logo me matriculei. O que houve de ruim no curso é que ele terminou.
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