Os cidadãos de Patópolis estavam indignados contra os políticos. A situação no país era periclitante. Ana Maria inflou o peito, olhou-se no espelho, saiu do banheiro, apagou as luzes da casa e foi para o coreto da cidade, que ficava numa ampla e arborizada praça. Joaquim Santos, o homem mais rico da cidade, discursou. Pedro Matias, o mais pobre, discursou. Na pequena multidão, cartazes contra os políticos podiam ser vistos. Ana Maria erguia acima da cabeça um desses cartazes; nele, os dizeres “Chega de corrupção!”. As letras vermelhas haviam sido escritas em caixa alta.
Era um domingo à noite. Na manhã do dia seguinte, Ana Maria foi para Passarópolis, onde estudava. Ela aproveitou os quarenta minutos da viagem para fazer as contas de quanto tinha para receber dos alunos da outra turma. Nos cálculos de Ana Maria, o dinheiro daria para ela comprar um novo modelo de celular e um corpete. Terminadas as contas, conferiu os arquivos que enviara, por intermédio de aplicativo de mensagens, para os alunos. Eram fotos que ela tirou de uma prova que havia feito três dias antes. Como a professora geralmente aplicava a mesma prova nas duas turmas, sempre havia ávidos compradores dos arquivos de Ana Maria.
Ela havia criado um grupo de vinte e duas pessoas em aplicativo para celular. Nas mensagens que trocavam, acertavam os valores da transação. Ana Maria sabia que uma vez passadas as fotos para os alunos, os arquivos poderiam ser enviados para outros estudantes, o que ela levava em conta na hora de definir quanto cobraria pelas fotos.
Enquanto o ônibus se movia, Ana Maria estava contente, já se imaginando com o celular e o corpete novos. No sábado seguinte, data em que os cidadãos haviam marcado outra manifestação contra os políticos, Ana Maria, em vez de compor outro cartaz, fotografou os protestos com um celular novinho, deliciando-se com os recursos do aparelho e com a textura do corpete.
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