Muito tem sido dito sobre a entrevista do Osório, técnico do México, após a derrota para o Brasil pela Copa. Não entendo o trecho “futebol é para homens”, falado por Osório, como machista. Entendo, no caso dessa entrevista dele, “futebol é para homens” como sendo igual a futebol não é para moleques, não é para meninos mimados. Estando eu correto ou estando eu errado em minha interpretação, não estou errado ao dizer que a crítica do Osório foi contra o Neymar.
Osório argumentou ainda que o jogador brasileiro é um mau exemplo, em função de uma teatralidade desonesta, antiesportiva. Logo, logo, foi resgatada uma entrevista do Tite, concedida em 2012, em que ele critica Neymar pela teatralidade antiesportiva do jogador, quando Tite era o técnico do Corinthians, e Neymar era jogador do Santos. A entrevista de Tite em 2012 e a de Osório depois da derrota para o Brasil nesta Copa têm algo em comum: ambos disseram que Neymar é um mau exemplo.
Tanto Tite quanto Osório escancararam a condição humana. Numa análise ideal, Tite deveria condenar Neymar publicamente (o que ele, Tite, fez em 2012) pela teatralidade do jogador durante esta Copa. Só que agora Tite é técnico do Neymar. Em conversas particulares, o técnico até pode ter chamado a atenção do jogador (não se sabe se isso ocorre(u)), mas, em público, não quer causar um possível mal-estar no time.
Ao defender Neymar agora, durante a Copa, o técnico conferiu dois pesos para a mesma medida, para o mesmo comportamento, para o mesmo jogador. Ao defender Neymar, Tite, no mínimo, foi contraditório. Boa parte da imprensa e dos meios de comunicação parece estar com medo de dizer isso, pois, no todo, o técnico tem sido incensado, bajulado.
Ele foi contraditório, mas exigir dele que não fosse seria esperar demais de um ser humano. Pode-se argumentar, com razão, que no futebol os técnicos quase nunca admitem que erraram ou que determinado jogador deles é desleal ou tem comportamento antiesportivo. A questão é que essa falta de ímpeto ou de coragem ou de sinceridade não se dá somente no universo do futebol. O ser humano, no dia a dia, muito raramente tem a... ousadia de assumir publicamente questões melindrosas ou contraditórias.
As coletivas do Tite são enfadonhas, estudadas demais, delicadinhas em excesso. Não bastasse, há uma parte dos repórteres que o poupam de questionamentos incisivos, mesmo sendo eles necessários. À parte isso, ainda que ele não ganhe esta Copa nem outra qualquer no futuro, Tite já é um sujeito vitorioso na profissão de técnico.
A entrevista em que ele defende Neymar quanto a algo que ele mesmo, Tite, já havia criticado o jogador merece reprovação. Mesmo assim, em situações assim, levo em conta que coragem, rebeldia, ousadia e honestidade não são predicados comuns em nós, não importa a profissão. Isso não elimina a contradição de Tite, mas revela que ele é tão humano quanto eu e quanto você.
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