É natural que muitos se perguntem o que estava errado quando o Brasil é eliminado de uma Copa do mundo. O torneio de seleções passado, realizado aqui, deixou gritante um traço que não é somente do jogador de futebol brasileiro, mas do brasileiro como um todo: falta de preparo psicológico. Pode haver essa falta de preparo em qualquer idade e em qualquer profissão, e quando se está diante de uma situação drástica ou decisiva, o despreparo desestrutura o indivíduo.
Em 2014, na Copa realizada aqui, a imagem de um Thiago Silva combalido e sentado na bola ilustra a fragilidade psicológica daquele time (e também a deste de 2018). Há momentos na vida em que é preciso haver lastro para que se esteja apto a suportar eventuais grandes desafios. Qualquer um com um pouco de imaginação é capaz de imaginar a gigantesca pressão que há sobre um jogador que disputa uma partida decisiva numa Copa do Mundo. No caso do Brasil, esse jogador não tem na Confederação Brasileira de Futebol uma empresa que se preocupa com o esporte que gerencia. Não bastasse, há o traço sociológico do oba-oba, do improviso, do jeitinho, da ideia de que basta o talento para se ser bem-sucedido em momentos cruciais.
Não faria sentido subestimar o talento, não levá-lo em conta. Só que mesmo em esportes coletivos, o talento, por si, não consegue resolver tudo. E mesmo o talentoso ou mesmo o gênio (o que é algo muito, muito raro), se não tiverem o mínimo de maturidade para lidar com seus talentos (ainda que não haja tal maturidade em outros aspectos da vida), não poderão exercer suas capacidades em plenitude. Mesmo a genialidade requer um mínimo de disciplina.
Não avisto para breve no horizonte uma mudança em nosso famoso jeitinho: o futebol aqui praticado vai continuar sendo comandado pela incompetência da CBF e a ideia (que não corresponde aos fatos atuais) de que somos o melhor futebol do mundo vai continuar sendo bombardeada nas mídias e incentivada por internautas “anômimos” e por ex-jogadores, “parças” que, em redes sociais, repetem chavões que nada acrescentam para a melhoria do futebol, dentro ou fora do campo.
No esporte individual, é possível ao atleta fugir do que é a moeda corrente em seu país de origem. No caso do esporte coletivo, é mais difícil, pois é pouco provável que a maioria dos jogadores de uma equipe tenham a percepção de que há como ser divertido ou espirituoso sem cair no descompromisso ou na crença de que basta o talento para se resolver as coisas.
Numa atmosfera assim, em que a entidade que comanda o futebol nacional é gerenciada por quem nem deve saber o que é uma bola e num país em que disciplina e seriedade são características consideradas caretas, é espantoso o futebol nacional ter tido as conquistas que já teve. Se, como um povo, assumíssemos nossos defeitos e se nos comprometêssemos a assumir que autocomplacência imatura não faz ninguém crescer, isso poderia criar uma onda que chegaria aos gramados. Mas o que chega a eles é o nosso despreparo e nossa falta de disciplina e de seriedade. Poderíamos ser mais, dentro e fora de campo.
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