Os discípulos dessa corporação uníssona chamada grande mídia nunca vão admitir dados de que não houve quebradeira no Brasil depois do governo de FHC e antes do governo de Temer. Nesse viés, nunca vão admitir que o problema dos preços dos combustíveis não é herança do governo petista. Isso não quer dizer o governo do PT não tenha errado — Belo Monte é exemplo de erro grave pelo etnocídio que tem causado. Negar que houve corrupção no governo petista seria burrice, assim como é burrice alegar que a corrupção foi inventada pelo PT ou alegar que não houve corrupção durante a ditadura militar ou negar que não houve corrupção no blindado governo FHC (neste caso, a leitura de A Privataria Tucana esclarece muito).
Como eu já disse, nunca tive ilusão nem pretensão de mudar o pensamento de alguém quando escrevo; isso seria luta mais vã do que as outras lutas vãs com que me envolvo (“lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã”). Sei que os crédulos vão continuar acreditando nas grandes corporações de comunicação, vão continuar dizendo que os governos Lula e de Dilma quebraram o Brasil. Nunca tive a intenção de mudar a ideia de quem pensa assim, pois quem assim pensa não vai mudar de ideia por uma série de questões, que podem até dizer respeito a coisas que não são estritamente da política, como, por exemplo, a falta de um mindinho ou o vestido de alguém.
O assunto em voga é a falta de combustíveis nos postos de gasolina. Por todo o Brasil, donos de postos já deram prova do quanto o brasileiro é “solidário”: ontem, houve “cidadão de bem” que chegou a vender gasolina por R$ 9,99 (https://bit.ly/2x9XCR6). Isso é muito revelador do quanto estamos distantes de construir para nós um país para todos.
Sobre esse problema, recorri a um estudante de economia, que me pediu para ficar no anonimato. Segundo ele, há uma teoria em economia chamada de “questão da utilidade marginal”. Segundo o economista, “a questão da utilidade marginal na hora de determinar os preços é uma teoria econômica que diz que o preço de um bem reflete não o seu custo, mas, sim, o quanto ele é útil naquele momento. Por exemplo: se você está no deserto do Saara e encontra um vendedor de água, na primeira garrafa você está disposto a pagar o preço que ele quiser cobrar porque o bem é extremamente útil pra você naquele momento; na segunda garrafa você já está disposto a pagar um pouco menos, porque já é menos útil pra você, até que chega um momento em que a água é um estorvo e você não está disposto a pagar mais nada, ou até está disposto a pagar para não ter o bem. Essa é uma teoria importante na questão da formação dos preços, que acaba refletindo na questão da lei da oferta e da demanda, e acho que se aplica bem nesses momentos de crise com bens muito úteis, como a gasolina, por exemplo”.
A própria economia admite ainda haver fatores não racionais que devem ser levados em conta: “Ninguém age o tempo todo de forma racional. Inúmeras vezes, agimos por impulso, sem medir as consequências de nossos atos. Outras tantas vezes, agimos por mero hábito, por condicionamento social, porque ‘é assim que sempre se fez’. E, normalmente, mesmo quando procuramos ser racionais, não deixamos de ser influenciados pela cultura e por nossas pulsões (tantas vezes, inconscientes) avessas à racionalização. (...) De forma que o ‘homem econômico racional’ tem que ser tomado como uma construção ideal, e não como uma representação realista da ação humana. O que não significa — insistamos — que esta representação seja inútil”. [1]
É preciso ter em mente que a utilidade marginal ou o argumento de que não somos racionais o tempo todo não são salvo-conduto para os donos de postos de gasolina cobrarem os preços que bem entenderem. Esse ato pode ser ilegal, os postos podem ser denunciados. Sabemos que denúncias desse tipo não dão em nada no Brasil, mas nem por isso temos de aceitar que os postos cobrem dos consumidores o que bem quiserem.
Quando nasci, em 1970, a ditadura militar estava expulsando, torturando ou matando quem dela discordava (por isso mesmo há quem queira a volta do regime militar). O aumento do preço dos combustíveis era anunciado previamente, o que fazia com que os consumidores pegassem os veículos e corressem para os postos de gasolina para encher os tanques antes que o aumento entrasse em vigor. Ontem, indo para o trabalho, pude conferir as filas nos postos da avenida JK, aqui em Patos de Minas, em cena muito parecida com a que eu presenciava com frequência quando menino; à noite, no centro da cidade, mais filas para abastecimento. Tomo a liberdade de tirar a vírgula do “slogan” do Elsinho Mouco, modificando os números dele: o Brasil voltou quarenta anos em dois.
Aproveito para reiterar alguns números, que são públicos, embora escondidos da grande mídia — em especial os dados contidos nos dois primeiros links. O primeiro deles tem uma série de registros que fazem comparação entre os governos FHC e Lula/Dilma; o segundo é sobre o que há embutido no valor dos combustíveis; o terceiro é um contraponto aos dois primeiros.
https://bit.ly/2IHsA4w
https://bit.ly/2xbxKEu
https://bit.ly/2s4UT6o
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[1] Paiva, Carlos Águedo Nagel. Noções de economia / Carlos Águedo Nagel Paiva, André Moreira Cunha. Brasília. Fundação Alexandre de Gusmão. 2008.
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