terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Uma história e um vídeo



No dia treze de janeiro de 2008, Edgar, meu irmão, levou um tiro após uma briga de trânsito aqui em Patos de Minas. O que atirou e o que estava dirigindo a moto (ambos não tiraram os capacetes) no momento do disparo nunca foram identificados.

Quando recebi a notícia de que o Edgar havia sido baleado, eu estava em Caldas Novas com amigos. Momentos antes de eu ficar sabendo do ocorrido, eu havia comido muito. Tendo recebido a notícia, meu estômago ficou embrulhado, mas não cheguei a colocar para fora os alimentos.

Eram em torno de 21h quando fiquei sabendo do que havia ocorrido com meu irmão. Após ligações que fiz aqui para Patos, ficou decidido que eu sairia de Caldas Novas no dia seguinte, no primeiro horário de ônibus para Uberlândia. De lá, eu teria carona até Patos. Não consegui dormir naquela noite.

Os primeiros dias são muito difíceis. A gente fica sem saber o que fazer com o corpo de quem, de uma hora para outra, fica paraplégico. A esperança de que a pessoa volte a caminhar causa, no leigo, o temor de manejar o corpo do outro. Logo, logo, contratamos Diego Bueno Guimarães, enfermeiro que ficava aqui em casa durante o dia.

Ao mesmo tempo, eu e amigos passávamos os dias tentando vaga para que o Edgar pudesse ser atendido no Sarah, em Brasília, o que ocorreu pouco mais de um mês depois da briga que causou a paraplegia. Às noites, quando o Diego não estava aqui, eu colocava o relógio para despertar de duas em duas horas, a fim de mudar a posição do corpo do Edgar, para que ele não ficasse com escaras; devido ao tempo passado na cama e à quase imobilidade inicial, a pele pode ter feridas. O Sarah não admite pacientes com escaras.

Antes mesmo de meu irmão ir para Brasília, eu disse a ele que a partir do instante em que ele havia levado o tiro, a vida dele poderia ser encarada de dois modos: que ela havia acabado ou que ela havia renascido. É claro que eu torcia pela última alternativa, embora sem saber o que fazer para que ela existisse de fato no espírito do Edgar.

Na época, argumentei com ele que o mesmo capricho o qual fizera com que a bala o deixasse paraplégico poderia ter atingido um órgão vital. É uma questão de centímetros. Anos depois de ele ter levado o tiro, perguntei para o Edgar se ele achava que tinha valido a pena sair vivo daquela briga de trânsito. Ele respondeu: “Cê tá é louco: claro que sim!”.

Mas nada do que eu ou os amigos disséssemos não teria efeito se não fosse a atitude do Edgar em relação ao ocorrido e à vida como um todo. Dez anos depois do triste episódio, ele continua trabalhando, continua produtivo. Tanto é assim que está gravando um CD com músicas de autoria dele. A alternativa do renascimento tanto prevaleceu que o próprio Edgar diz que ele faz aniversário em duas datas: no dia em que nasceu e no dia em que levou o tiro.

Quando comentou comigo que gravaria um CD, propus a meu irmão fazermos um clipe que mostrasse o dia a dia dele. Ele topou. O clipe que mostra o cotidiano dele não é o desta postagem, embora já tenhamos filmado parte desse vídeo. O clipe desta postagem não deixa de mostrar uma parte do que o Edgar faz em seu dia a dia, mas a proposta foi desde o começo criar um clima mais intimista, devido ao astral da música.

Gravamos no Teatro Municipal Leão de Formosa, na tarde do dia dois de fevereiro de 2018. As pessoas a quem temos de agradecer por terem ajudado a realizar o projeto estão nos créditos; é o primeiro clipe que realizo. Para as tomadas estáticas, usei tripé. Para as tomadas em que há movimento, usei um trilho apoiado sobre duas cadeiras, que por sua vez estavam apoiadas sobre uma mesa, que por sua vez era carregada pelo palco do teatro. Em apenas uma das tomadas, a câmera estava sobre o piano. A fim de não danificá-lo, em vez de ela ficar sobre o trilho, eu a coloquei sobre uma toalha e puxei o tecido, imitando o movimento que o trilho possibilita.

Para os registros, usei uma Canon EOS 70D e duas lentes: uma delas (para a maioria das tomadas), uma Canon 50mm F/1.4; para duas ou três tomadas, uma Canon 18-135mm F/3.5-5.6. Em ambas as lentes, usei sempre a abertura máxima, variando ISO e velocidade conforme a luz.

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