sábado, 21 de outubro de 2017

O que ficará para o filho?

Concordo com as respostas dadas pelo garoto espanhol na foto desta postagem. Isso não quer dizer que eu discorde do resultado que a professora esperava. O enunciado é dúbio; dizia: “Escribe con cifra los siguientes números”. O problema da questão é a ambiguidade. Mas a professora não merece o calvário nem pelo “x” que escreveu por cima das respostas nem por esperar que fosse outra a solução dada pelo estudante.

O pai do menino, Ignacio Bárcena, postou no Twitter uma foto do exercício com as respostas do filho; junto à imagem, Bárcena escreveu: “Aquí va un ejercicio de mates de mi hijo (7 años). Yo creo que quien no lo ha entendido bien es el profe.@RaquelMartos”.

Os desdobramentos disso já foram bem divulgados. Como ocorre nessas ocasiões, as opiniões “pedagógicas” e as hipérboles surgem como filhotes de coelho. O cineasta Juan José Campanella escreveu postagem em defesa do filho de Bárcena: “Es un genio tu hijo. Escribió literalmente los números ‘siguientes’, jaja”.

No fundo, acho que Campanella fez uma brincadeira ao dizer que o menino era gênio. Mas não custa dizer que o fato de o garoto ter respondido do modo como respondeu não o torna genial. A resposta dele, claro, é só consequência do modo como as crianças interpretam as coisas. Como já esperado sempre que algo similar ocorre, há toda a cantilena sobre o papel da escola e dos professores.

Não se falou, contudo, sobre a atitude do pai em tornar pública a discordância dele, expondo, de modo desnecessário, a professora; ela não foi autora de um crime. Como pai, é óbvio que ele tem o direito de discordar da correção de algum exercício feita pela professora. A falta de tato dele está em dizer publicamente que quem não entendeu bem foi ela. Que o pai do garoto tentasse resolver isso com ela. Sugerir em público que a professora errou é infantil. Questionar é diferente de expor.

Sei que há professores obtusos; talvez o pai do menino tenha tentado argumentar com a professora, defendo as respostas dadas pelo filho dele. Nesse ambiente que imagino agora, pode ser que Bárcena tenha decidido tornar públicas as respostas do filho dele por causa de hipotética recusa da professora em acatar as respostas do menino. Ainda que isso tenha ocorrido, isso não anula a infantilidade dele ao exibir o que a profissional fez. (Será que ele, pessoalmente, já elogiou alguma professora do filho dele?)

Isso são cogitações, pois não achei nenhuma matéria sobre os bastidores do imbróglio. Contudo, mesmo num cenário assim, caberia ao pai não a deselegância ao dar publicidade ao ocorrido, mas procurar resolver a situação com a colaboração de outros profissionais da escola. Lamentável: em redes sociais não se diferencia o público do privado. Nesse episódio, ficará algo para o filho? Caso sim, que seja o benéfico questionamento do pai, e não o modo como ele tratou o caso.
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P.S.: depois e publicar o texto, li, há pouco, mea-culpa de Ignacio Bárcena: Para que conste, mi hijo piensa así gracias a profes como el que tiene y los que tuvo, que fomentan cada día su creatividad”.  

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