O Eurico Miranda já disse que “esse negócio de ética é coisa de filósofos”. O filho dele, Eurico Angelo Brandão de Oliveira Miranda, em entrevista concedida ontem, queixou-se de legado a ser deixado para as gerações vindouras. Com relação à reclamação contra o gol ilegal marcado por Jô, o Vasco está certo em protestar, pois o gol foi mesmo com a mão. No mais, a família Miranda está se queixando de algo que não oferece — lisura. O legado deles para os que virão não prima pela ética.
Deixando de lado essas questões, a fala de Eurico Miranda dita há tempos, a de que “esse negócio de ética é coisa de filósofos” é o reflexo da noção que se tem de que áreas do conhecimento como a filosofia ou a literatura são coisas puramente mentais, desvinculadas da vida prática, do cotidiano. Paira em muitos o pensamento de que filosofia ou literatura não dizem respeito às vivências das pessoas no torvelinho dos dias.
Negar os benefícios da filosofia ou da literatura, ou, num sentido mais amplo, negar os benefícios da área de humanas por desatinos que já praticaram seria o mesmo que negar os benefícios da ciência porque foi a partir da ciência que construíram bombas atômicas e demais armas de guerra. Não penso duas vezes em me valer de um remédio se um dente esboça dor; não penso duas vezes em me valer de literatura ou de filosofia se desejo sutilizar meu espírito.
A vida por si é recalcitrante. As exatas e as humanidades aí estão para que nos valhamos delas, estejamos em dificuldades ou não. Ressaltar o que já produziram de pior sem reconhecer os benefícios que têm é obtusidade, ardil ou gigantesca ignorância quanto ao que tanto a arte quanto a ciência têm de importância ao tornar nossas vidas, na medida do possível, suportáveis.
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