Os meios de comunicação criaram para Bruno Borges o estranho epíteto de “o menino do Acre”. Quando li a expressão pela primeira vez, pensei se tratar de uma criança. Ao ler, há mais ou menos cinco meses, matéria sobre Bruno, logo fiquei sabendo que ele tem vinte e cinco anos. Achei a alcunha de “menino” inapropriada para uma pessoa dessa idade.
Diante da matéria, pensei em duas possibilidades: ou Bruno era louco ou se tratava de alguma armação toscamente fantasiada de misticismo. Quando de seu “desaparecimento”, cogitou-se a possibilidade de ele estar morto. Na época, pensando na agonia da família dele, torci para que o “menino” estivesse vivo. Está. Voltou hoje para casa.
Segundo texto veiculado no G1, o livro de Bruno Borges, lançado pela editora Arte e Vida, intitulado “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento”, é muito ruim. Cauê Muraro, autor da resenha da obra de Bruno publicada no G1, escreveu: “Ele tem aversão a sexo, gula e crase. Faz zero questão de parecer modesto (cita a si mesmo, inclusive)”. Parece que os revisores da Arte e Vida quiseram manter o texto dele imaculado. Ao longo do texto, Muraro menciona outros escorregões gramaticais de Bruno Borges. Não bastassem questões técnico-gramaticais, ainda de acordo com o texto publicado no G1, fazer sentido não é grande preocupação de Bruno.
O livro dele está vendendo bem, segundo o que a mídia tem divulgado. Em maio deste ano, Marcelo Ferreira, de vinte e dois anos, amigo de Bruno, foi detido pela polícia por crime de falso testemunho. Na casa de Marcelo, havia dois contratos. Um deles era sobre porcentagem de lucros com a venda dos livros de Bruno. Outro envolvido seria Bruno Gaiote, em cuja casa havia móveis do quarto de Bruno Borges. Ninguém está preso.
Se encarado com olhar estritamente financista, o plano de Bruno Borges é perfeito. Ele conseguiu visibilidade nacional, conseguiu despertar curiosidade para um livro que nem havia sido lançado e tem conseguido, de acordo com os meios de comunicação, fazer com que seu livro venda bem. Num prisma estritamente marqueteiro, Bruno Borges é um sucesso.
Não há nada de errado em estratégias de marketing. Além do mais, Bruno não é o primeiro a se valer de um engodo para ganhar dinheiro. Todavia, sem querer soar ingênuo, há uma questão ética que deve ser levada em conta. Ele posa de místico, quando na verdade é um excelente estrategista de marketing. A questão que se impõe: é preciso enganar para vender?
Investir na credulidade, no medo, na burrice, em produtos de fácil consumo e em pseudomistérios não é garantia de êxito, mas, levando-se em conta somente critérios monetários, pode ser um belo começo. Bruno sabe disso. Poder-se-ia alegar que o azar é de quem acredita em balelas de falsos religiosos, de pseudomísticos ou de gurus da autoajuda, gastando dinheiro com produtos desse teor. Mesmo havendo muita gente que acredita nesse filão, isso não anula a questão ética de que os produtores desse mesmo filão sabem que vendem uma mentira, lucram com um embuste.
O caso de Bruno será debatido nos cursos de publicidade e propaganda. Não consigo levar em conta unicamente o caráter lucrativo da empreitada dele. Todo mundo sabe que dinheiro é bom e que cada um se vale do que é capaz para consegui-lo. Bruno deu-se bem ao contar com as crendices de quem o considera místico ou com os delírios dos que acreditaram que ele teria sido abduzido. No futuro, quando ninguém mais falar dele nem dos livros dele, haverá outros crédulos e outros Brunos fomentando um mercado em que sempre há tapeadores e iludidos. Em qualquer época, existem espertalhões com a manha da TAD: Teoria da Absorção do Dinheiro.
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