terça-feira, 27 de dezembro de 2016

“Como conversar com um fascista”

Terminei de ler “Como conversar com um fascista” (2016), da filósofa Marcia Tiburi, publicado pela Record. O livro é uma tentativa de entendimento político-filosófico do Brasil contemporâneo, cuja população tem se negado ao diálogo. Ele, diálogo, implica, é claro, a palavra. Negar-se à palavra é criar em si o vazio. Nesse vazio, instaura-se o ódio, que acha terreno fértil na ausência do discurso, do diálogo, da palavra.

A premissa de Tiburi é a de que só o diálogo levaria à compreensão profunda e profícua de si mesmo e do outro. Na ausência da palavra-ponte que nos ligaria a esse outro, parte da sociedade do Brasil contemporâneo tem se dedicado a reproduzir clichês midiáticos não raro preconceituosos. Em “Como conversar com um fascista”, a filósofa se detém sobre a atualidade brasileira, em que a busca de discursos coerentes tem cedido lugar a manifestações de ignorância.

Marcia Tiburi se debruça sobre o Brasil de agora, sobre o momento político de hoje, sobre as implicações das redes sociais, que podem tanto contribuir para o debate democrático quanto para o compartilhamento de preconceitos. Todavia, o mergulho no Brasil de hoje não impede a autora de perscrutar nosso passado, a fim de se buscar um entendimento maior do que é ser brasileiro.

Com essa abordagem, é inevitável que, em alguns dos breves ensaios do livro, Tiburi aborde a questão da chegada de Colombo à América e do genocídio dos índios brasileiros quando da chegada dos portugueses. O livro, embora tanto relate a quebra da alteridade, tem nessa mesma busca da alteridade a sua essência. 

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