Sylvia Plath (1932-1963), autora estadunidense, é conhecida como poeta. Publicou um único romance, “A redoma de vidro” [The bell jar], lançado em 1963. Foi a leitura que terminei há pouco. No Brasil, é comercializado pela editora Biblioteca Azul. A tradução é Chico Mattoso.
A obra está na linhagem do que a crítica chamaria de autoficção, em que autobiografia e ficção se misturam, sem que saibamos com exatidão o ponto em que uma termina e a outra começa. “A redoma de vidro” conta a história de Esther Greenwood, brilhante jovem criada nos arredores de Boston. Esther tem a acesso a prestigiosa universidade, a partir da qual consegue bolsa para estagiar um mês numa revista feminina em Nova York.
O que era para ser algo promissor acaba se tornando o começo da derrocada de Esther. A obra, em sua primeira metade, diverte, em função da imaturidade e do humor seco de Esther, que é a narradora, uma narradora divertida e imatura. Num tom displicente, ela vai contando sobre o período que passa em Nova York.
Todavia, mal começada a segunda metade do livro, o caráter de leveza e de ingenuidade some de súbito. O que antes era não mais do que o relato de uma jovem talentosa com um mundo de oportunidades se descortinando se transforma num calvário que a leva a tratamentos de choque em clínicas psiquiátricas.
Do mesmo como narra, digamos, as impressões que teve sobre um vestido, ela conta sobre os procedimentos médicos pelos quais passou nas clínicas ou sobre os pensamentos suicidas que rondam a mente dela. Não importa o que ela conte, seu tom não muda. Nessa curiosa estratégia, de uma página para outra, deixamos de encarar a obra como retrato de um mundo juvenil; o enredo até então descompromissado cede lugar a uma narrativa que perscruta a mente de quem rui por causa de um colapso depressivo.
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