A vida real não tem Tarzans que intercedam a favor dos colonizados. Menciono isso porque a relação do colonizado com o colonizador é um dos temas abordados por “A lenda de Tarzan” (2016), em cartaz nos cinemas. A direção é de David Yates; o roteiro ficou por conta de Adam Cozad e de Craig Brewer.
O embate entre colonizados e colonizador não é novo. Foi assim na hoje chamada América Latina, é assim no Congo que serve de cenário para “A lenda de Tarzan”. Mal tendo chegado à América, os europeus quiseram saber se havia ouro; no filme, a busca é por diamantes, que o colonizador sabe existirem.
A partir daí, é inevitável que também esteja presente na produção o embate entre o que se convencionou considerar civilizado e o que é tido por selvagem. O europeu, ao invadir, considera-se superior precisamente por se ver como o civilizado na relação que tem com os nativos, que são vítimas do poderio do invasor.
No filme de David Yates, há o mote de que a natureza é superior à civilização. Assim, é claro, o homem... natural, que literalmente dialoga com a natureza, é eticamente superior ao citadino, a despeito da tecnologia e da etiqueta inventadas pela civilização.
Alexander Skarsgård faz um ensimesmado Tarzan; Margot Robbie interpreta uma topetuda Jane. Samuel L. Jackson está na pele de George Washington Williams, que, fazendo um mea-culpa, está do lado de Tarzan. Christoph Waltz é, mais uma vez, o vilão, que se chama Leon Rom.
Rom tem um rosário que sempre carrega consigo. Há um cinismo amargo nisso, pois o rosário que ele porta é usado como arma (sic). Esse rosário, precisamente pelo que tem de signo religioso, acaba remetendo à prática de alguns colonizadores religiosos que, em nome da catequização ou da salvação da alma dos chamados selvagens, acabavam, sim, levando maus tratos e morte.
Deixando de lado essas minhas digressões, é preciso lembrar que “A lenda de Tarzan” é, antes de tudo, um filme de aventura, é entretenimento. É mais uma releitura da criação de Edgar Rice Burroughs, a qual, desde o começo do século XX, tem seduzido a imaginação de leitores e de espectadores.
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