sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ilusão e sonho


As mais profundas reflexões filosóficas podem estar presentes também na cultura popular. A agudeza de reflexão ou de questionamento filosófico não é privilégio da cultura erudita. Por isso mesmo, a erudição, pelo arcabouço teórico que tem, deveria beber com mais sede a cultura popular.

Há uma canção pop chamada “Time to pretend” (Hora de fingir), da banda MGMT. Lembro-me da primeira vez em que a escutei, quando ela já estava pela metade. Liguei o rádio bem no trecho em que se canta “I'll miss my sister, miss my father, miss my dog and my home”. O verso captou minha atenção.

Depois, quando conferi a letra da canção, dei-me conta de que ela narra os devaneios de um eu lírico que se imagina vivenciando o mundo da fama; em especial, o universo do “showbiz”, com seus excessos, suas drogas, seu ritmo veloz, sua carga alta de adrenalina e suas mortes prematuras. “Time to pretend” tem uma temática fascinante demais: é sobre os iludidos, os quixotescos.

Boa parte da canção se refere a um futuro em que, supostamente, haverá tudo o que o dinheiro e a fama podem conseguir. Uma vida sem as chatices e as burocracias impedidoras que nós, os não famosos e os não artistas, temos de levar. É uma canção sobre um iludido, não sobre um sonhador, mesmo eu ciente de que é quase invisível a linha que separa o sonhador do iludido.
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P.S. 1: Em 2008, escrevi um texto intitulado Nós, os Iludidos. Eu o menciono por ele estar ligado à temática desta postagem. Caso queira conferir esse texto de 2008, o endereço é este.

P.S. 2: Em 2014, comparei “Time to pretend” a “Babylon”, do Zeca Baleiro. Para conferir, eis o endereço. 

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