sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AUTOAJUDA

Quando se trata do gênero autoajuda, não há como discordar da mensagem: penso que ninguém contestaria, por exemplo, o pensamento de que é preciso ter perseverança. O que torna o gênero autoajuda pobre não é nem tanto a mensagem em si, mas a obviedade. Os truísmos do discurso da autoajuda chegam a ser irritantes. Autores e palestrantes do gênero, espalhando lugares-comuns, acabam por retirar da vida uma complexidade que existe. Não há no discurso deles espaço para nuances; não há áreas sombrias, incompreendidas.

Livros e palestras de autoajuda incomodam por, de modo enviesado, afirmarem também que não se sabe interpretar um exemplo. Digamos que eu tome conhecimento da vida de uma pessoa que saiu de uma cidadezinha qualquer do interior e se deu bem, financeira e pessoalmente (sendo que esse era o objetivo dessa pessoa) numa metrópole, depois de muito cair e levantar. Ora, uma trajetória assim é exemplo eloquente. Não é necessário alguém dizer que é preciso ousar para se dar bem.

O discurso da autoajuda passa a ideia de que a fórmula do êxito foi finalmente descoberta. Cientes disso, palestrantes, valendo-se de técnicas teatrais, jogam suas “pérolas” para a multidão: “Novos tempos pedem novos paradigmas! O mundo é multifacetado. Não se vive mais hoje como se vivia há dez anos. Aquele que não se atualiza está fora do mercado! Vamos, ajam! O que vocês estão esperando? Sejam os donos das vidas de vocês!”. Como parte do “kit”, uma canção pode ser executada quando o evento está prestes a acabar. Lembro-me muito bem de um tempo em que “Friends for life (amigos para siempre)” era moeda corrente depois de palestras.

Boa parte dos discursos de autoajuda preferem ignorar que não há receita para o sucesso. Ou, dizendo com outras palavras, não há a garantia de que se determinados passos forem seguidos, o sucesso vai ser alcançado. Se, por um lado, é difícil imaginar que a inação leve a grandes êxitos, por outro, não é certo que todo aquele que age e persiste conseguirá o que almeja. Além do mais, êxito ou fracasso estão inseridos numa trama tão vasta e com tantos elementos, que não há como afirmar com exatidão o que levou alguém a fracassar ou a ter sucesso. 

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