sábado, 1 de agosto de 2015

DUAS MÃES

Mãe 1

Eram mais ou menos sete e vinte da manhã. Eu começaria a dar aula às sete e meia. Ao lado de onde eu trabalhava, havia uma padaria; eu estava tomando café. Foi quando chegou um garoto de uns, suponho, treze, catorze anos; a mãe o acompanhava.

— Mãe, me dá uma Coca-Cola.
— Meu filho, já falei com você. O café da manhã é uma refeição importante: você precisa se alimentar melhor...
— Mãe, me dá uma Coca-Cola.
O garoto recebeu o refrigerante.
— Mãe, quero uma esfirra.
— Meu filho, não é hora de comer essas coisas. Café da manhã é hora de comer frutas, de tomar leite...
— Mãe, quero uma esfirra.

O garoto a recebeu.
_____

Mãe 2

Eu estava num supermercado. Próximo à seção de chocolates, havia um garoto de uns, presumo, cinco ou seis anos. Ele seguia ao lado da mãe.

— Mãe, quero um chocolate.
— Já falei que você não deve ficar comendo essas coisas com frequência. Você vai comer chocolate quando eu disser que você pode comer chocolate.
— Mãe, me dá um chocolate!
— Você não vai ganhar chocolate hoje. Pronto e acabou.
O garoto começa a chorar bem alto. Exalta-se. Dá birra. Deita-se no chão, gritando. A mãe, de olhos arregalados, olha para o menino. Mesmo diante da situação, ela conferiu um tom calmo à voz:
— Hum, então o senhor agora aprendeu a dar birra. Pois fique aí com seu chilique. Eu tenho mais o que fazer.

Dizendo isso, a mãe saiu empurrando o carrinho de compras. O menino, cujos berros já podiam ser escutados em todo o supermercado, gritou mais alto ainda. A mãe, conseguindo aparente impassibilidade, continuou se afastando do garoto. Tendo chegado ao fim de uma das prateleiras, virou à esquerda, sem olhar para o filho, que parou, súbito, de chorar. Esperou alguns segundos. Não tendo mais notícia da mãe, saiu correndo atrás dela. 

4 comentários:

Anônimo disse...


Desculpe, mas não entendi o que aconteceu na última frase do texto "mãe 1".
Sobre a mãe 2, esta entende que não deve ceder a uma
chantagem emocional do filho só por estar em público.
É isso meshmo, tem de ser firme!

Lívio Soares de Medeiros disse...

Olá. Eu quis dizer que a mãe cedeu ao pedido do garoto, comprando a esfirra para ele.

Anônimo disse...

Olá, Lívio. Agradeço sua resposta, mas ainda não entendi...
Não consigo enxergar o sentido da frase na
forma como as palavras foram distribuídas...
"o garoto recebeu ..."- aqui em diante eu esperava um objeto direto,
mas "...a recebeu" me soa muito sem sentido... por que o verbo está
se repetindo assim?
Se isto fosse uma questão em alguma prova de concurso público,
eu já era... Meshmo assim, tem como você me dar um retorno?
Grata pela atenção.

Lívio Soares de Medeiros disse...

Olá. Só agora é que me dei conta: a frase estava incorreta. Acabei de corrigir. Obrigado pelo lembrete.