[Obrigado a Maíra Queiroz Rezende, professora de biologia do IFTM, campus Patos de Minas, pela explicação sobre sinapses e neurotransmissores.]
O Orson Welles disse certa vez que assistir à TV é mais fácil do que ler um livro. É mesmo. De modo correlato, assistir à TV é mais fácil do que praticar uma atividade física. Embora, é óbvio, haja diferenças entre a atividade física e a intelectual, há simetrias possíveis entre as duas.
Nenhuma delas é fácil, independentemente da preferência por uma ou por outra. Num plano superficial, e seguindo o comentário do Welles, basta dizer que é mais fácil não ler nada nem praticar atividade física nenhuma. Mas aí há um paradoxo curioso: é mais fácil, mas é prejudicial. Dizendo de outro modo, focando-se o outro lado da moeda: o que faz bem demanda esforço.
Salvo exceções, seja de pessoas com capacidade cerebral privilegiada, seja de pessoas com habilidades corporais excepcionais, a maioria de nós tem mais ou menos corpos similares e inteligências médias. Com relação ao corpo, excetuando-se alguma doença devastadora, podemos melhorar a condição física que temos por intermédio do hábito. O mesmo vale para a inteligência.
A atividade física e a intelectual, para que resultem em plenitude, dependem do hábito. Isso, assim me parece, é mais literalmente visível na atividade física; já na atividade intelectual, não raro, há a visão romântica e equivocada do gênio iluminado que recebe dos deuses graças inspiradas.
Ainda que a pessoa tenha um corpo saudável sem atividades físicas e ainda que tenha inteligência o bastante sem atividade intelectual, grandes conquistas, tanto corporais quanto cerebrais, não vêm sem hábito, sem alguma disciplina, sem algum esforço. Diante do brilho de um corpo ou de uma inteligência, é preciso levar em conta as horas e horas de dedicação que foram necessárias para se chegar àquela excelência, seja ela física, seja intelectual.
É comum dizer que o corpo enferruja. O cérebro também. É necessário exigir do corpo para que ele melhore. O mesmo vale para o cérebro. Músculos se atrofiam; sinapses, idem. Atividades físicas e intelectuais nada garantem, não asseguram proteção contra doenças. Elas são um benefício para o presente. Se o futuro se beneficiar delas, melhor ainda.
Tratei separadamente as atividades físicas e as atividades intelectuais. Não é segredo, contudo, que o cérebro se beneficia das atividades físicas; não me parece desarrazoado dizer que o corpo pode se beneficiar das atividades intelectuais, seja lá como for. Há, de fato, a dualidade mente/corpo? Não sei. À parte isso, sem esforço, não seremos o melhor de nós. “No pain, no gain”, o lema dos fisiculturistas, vale também para os intelectuais.
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