Tudo começou por causa de uma profunda admiração pela inteligência. Isso, muito antes de eu me tornar um leitor. Tanto que o primeiro fascínio foi pelos professores (isso se mantém). Daí, estender essa fascinação para outras inteligências que não somente as dos professores foi um passo um tanto natural.
O desejo era o de destrinchar os mecanismos da inteligência do outro, que podia ser um professor, um amigo, um filósofo que li, um cientista ou um músico. Decifrar os meandros da inteligência a fim de tentar aprender a ser inteligente. A veneração pela inteligência é o que acabou causando uma vontade firme de querer ser inteligente.
O Borges escreveu que “ninguém escreve o que quer, mas o que consegue”. De modo análogo, por mais inteligente que se queira ser, há limites que não podem ser transpostos por absoluta falta de talento. Se dependesse de eu fazer uma escultura ou pintar um quadro, por exemplo, eu não saberia como começar. Após flertes com alguns ramos do conhecimento, acabei tomando o caminho das letras. Não por um talento abissal na área, mas por falta de talento em outros campos.
O resto é leitura, é escrita. Aferrei-me às palavras. Passei-me a dedicar à riqueza do português. Trata-se de meu idioma, e me sinto quase que na obrigação de esmiuçá-lo. Além do mais, é uma língua que acho bonita, cheia de possibilidades, seja para a fala, seja para a escrita. A palavra passou a ser a meta. A palavra exata ao escrever. A palavra exata, pronunciada com exatidão, ao falar.
Há muito de sonho nessa história, muito de busca, muito de ideal. Em meu caso, a concretização está sempre longe do que se tinha em mente. Por outro lado, sem esmorecimento, é preciso não exigir tanto de si. Há que se ter resignação, aceitando com rebelde tranquilidade o que se é capaz de produzir.
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