terça-feira, 11 de novembro de 2014

NA EXPECTATIVA

Diante de um soneto de Shakespeare, alguém pode se espantar por alguém gastar catorze linhas para dizer que uma pessoa é bela. Diante da “Ode à alegria”, alguém pode argumentar que são apenas notas musicais. Diante de uma partida de futebol, pode-se argumentar que são apenas vinte e dois seres humanos dando chutes numa bola.

A rigor, não há nada de errado em achar que um texto são apenas linhas, que uma música são apenas notas musicais, que uma partida de futebol trata-se tão-somente de vinte e dois seres humanos tentando fazer uma bola nascer nas redes. Sim, não há nada de errado, só que a vida precisa de doses de desatino. Loucura maior é a sanidade em tempo integral.

Não, não consigo encarar a decisão da Copa do Brasil como apenas duas partidas de futebol. Por mais que eu tente me conter, já me sinto, para dizer pouco, torcendo por algo épico. Vou assistir às partidas na expectativa de quem está diante de algo que pode ser grandioso, belo, inesquecível, retumbante.

As partidas que decidirão o torneio podem ser modorrentas ou truncadas ou feias. Mesmo assim, ainda faltando mais de vinte e quatro horas para o início da decisão, já me sinto privilegiado por ter a oportunidade de presenciar um evento como esse. É claro que posso morrer antes de o jogo começar, mas tomara que não. Tomara que eu esteja vivo. Quero, de algum modo, participar da escrita de mais essa linha da história. 

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