Mangas? Dispenso-as. Nos morangos, não vejo a sensualidade a eles atribuída. As maçãs são gostosas. De mexericas e laranjas, faço questão. Todavia, não adianta: tenho veneração por uma que é gorda, feia e ruim de carregar. O tempo passa, mas a veneração que tenho pelas melancias é a mesma de outros tempos.
Há pouco, eu estava me chafurdando numa. Foi quando tive a ideia para este texto. Só que antes da suculenta delícia, há a casca. Para mim, é uma peleja ter de descascar, seja o que for, por eu ser muito desajeitado em manejar facas. Sempre fico impressionado quando vou comprar uma melancia, e o atendente, em segundos, consegue cortar a fruta, num entalhe perfeito.
Há pouco, saboreei, de olhos fechados, cada fatia. Concentrando-me no prazer em si (no prazer em mim?), fui comendo e comendo. O estômago já estava cheio. Mesmo assim, eu não conseguia parar de fatiar mais um pedaço, mais um pedaço, mais um pedaço... Como pode algo ser tão gostoso?!
Aqui em casa, quando tenho de lidar com elas, sempre apronto uma bagunça: o corte fica torto, os pedaços saem desengonçados. Ainda assim, asseguro, o prazer de saborear melancia é para mim uma epifania, é a possibilidade de acesso a um mundo de delícias não terrenas. Não deixo de ser mortal; entretanto, torno-me um mortal conhecedor de regiões que nada lembram nossa condição passageira e limitada. Degustar melancia é um momento de elevação.
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