“Minha vida sem mim” [My life without me] é um filmaço de 2003. Incrível como a diretora e roteirista, Isabel Coixet, contou uma história pesada sem, todavia, cair num dramalhão. O filme é baseado numa das histórias que compõem o livro “Pretending the Bed is a Raft”, de Nanci Kincaid.
Logo no começo, Ann, vinte e três anos, interpretada por Sarah Polley, recebe o diagnóstico que tem câncer e que morrerá em dois ou três meses. Ela decide esconder a doença de seu marido, de sua mãe e de suas duas filhas pequenas, alegando ter sido diagnosticada com anemia.
O casal passa por dificuldades financeiras. Don, o marido, interpretado por Scott Speedman, está, a princípio, desempregado (consegue emprego depois). Ann trabalha como faxineira. Ela não se dá bem com a mãe, interpretada por Deborah Harry (sim, aquela mesma, que foi vocalista da banda Blondie, do sucesso “Heart of glass”). Alfred Molina faz o pai de Ann; ele está preso.
Diante de um futuro cuja certeza é uma morte em breve, Ann decide fazer uma lista de coisas que pretende realizar. Nessa lista, há pendengas a serem resolvidas com a mãe e com o pai, bem como atitudes mais triviais, como um novo corte de cabelo. Ela também decide satisfazer a curiosidade de fazer amor com outro homem que não seja o marido.
Don e Ann haviam se casado muito jovens; conheceram-se, segundo eles, no último show realizado pelo Nirvana. Don era o único homem com quem Ann relacionara-se sexualmente. Tendo tomado a atitude de ficar com outra pessoa, conhece Lee, interpretado por Mark Ruffalo.
É um filme poético ali, reflexivo acolá. Coixet não se vale dos truques hollywoodianos ao contar a história. A manjada estética de Hollywood, com sua assepsia, não está no filme, que ao mesmo tempo não cede à escatologia. A “danadinha” da diretora e roteirista acertou demais no tom.
“Minha vida sem mim” é denso sem querer filosofar demais; consegue ser terno sem ser açucarado. É um daqueles filmes que nos tornam melhores, que fazem com que pensemos sobre a fugacidade de nossa vida, com que olhemos para ela com um olhar poético e urgente, mas sem desespero. É um delicado e inteligente convite à reflexão. A arte tem esse poder.
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