Não tenho o hábito de assistir a animações; sei que estou perdendo por não assisti-las. Dias atrás, liguei a TV e me deparei com “Kung fu panda”, produção da DreamWorks dirigida por Mark Osborne e John Stevenson. O filme já havia começado não sei há quanto tempo. Mesmo assim, passei a conferi-lo.
Bastaram poucas cenas para que eu começasse a achar graça da paródia dos filmes de artes marciais, das piadas do roteiro e do estilo anti-herói de Po, o panda que é o personagem principal. Logo, logo eu estava me divertindo.
Contudo, lá pela metade do filme, uma fala me arrebatou. Foi uma porrada. Prossegui assistindo à animação, já sabendo que eu a conferiria outra vez com a intenção única de prestar ainda mais atenção na fala e sobre ela refletir.
Assim foi. Tornando-me ciente do desenrolar da trama à medida que a animação prosseguia, eu aguardava a cena que traria a fala marcante. Chegado o momento, escutei, pausei, voltei e escutei novamente; pausei, voltei e escutei novamente; pausei, voltei e escutei novamente. Ciente de que eu não memorizaria o trecho, peguei papel e caneta e o anotei.
Gosto muito quando produções direcionadas para o público infantil enviam piscadelas para adultos, sem, contudo, tornarem-se, no todo, incompreensíveis ou maçantes para as crianças. Suponho que o trecho que muito curti não tem apelo para os pequenos, embora eu não esteja certo disso.
Os roteiristas são Jonathan Aibel e Glenn Berger. A fala de Po da qual gostei demais é proferida num momento em que ele desabafa diante de seu mestre, cujo nome é Shifu. Depois do desabafo, Po mudou para mim: deixou de ser visto como um atabalhoado e simplório estudante e se tornou alguém com densidade e com agudo senso de dor. Eis o que ele disse:
“É, eu fiquei. Eu fiquei porque toda vez que você jogava um tijolo em minha cabeça ou dizia que eu cheirava mal, isso feria, mas isso nunca poderia ferir mais do que feria todo dia da minha vida eu simplesmente ser quem eu sou. Eu fiquei porque eu pensei que se alguém pudesse me mudar... pudesse me tornar... quem eu não sou... esse alguém era você” [1].
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[1] Yeah, I stayed. I stayed because every time you threw a brick at my head or said I smelled, it hurt. But it could never hurt more than it did every day of my life just being me. I stayed because I thought if anyone could change me, could make me... not me, it was you.
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