De modo geral, não se considera, digamos, esteticamente bonita
a vida que se esforça para sobreviver. Olha-se para uma cachoeira ou para um
pôr do sol e diz-se que são bonitos. Ainda que a pessoa não tenha uma relação
especial com a natureza, parece-me não ser difícil considerar uma portentosa
harpia uma bela ave, caso nela se repare.
Contudo, quando a vida tem de sobreviver, geralmente não é
identificada como bela. Se por um lado pode-se considerar um tigre um majestoso
animal, não se considera esteticamente belo o momento em que ele estraçalha e
sangra com poder a sua presa. Enxerga-se uma espécie de beleza estética no
tigre, não no instante que ele trava luta pela sobrevivência.
Os vermes que se alimentam
de carne putrefata no meio de qualquer mata são expressão da mesma Vida que
engendrou uma harpia ou um tigre. Tudo é a mesma Natureza, que não se preocupa
com estética ou com nossas outras construções culturais se tivermos de ser a
presa. Assim como não nos preocupamos com estética, política ou física quântica
se tivermos de ser os predadores.
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