domingo, 28 de outubro de 2012

APONTAMENTO 157

De modo geral, não se considera, digamos, esteticamente bonita a vida que se esforça para sobreviver. Olha-se para uma cachoeira ou para um pôr do sol e diz-se que são bonitos. Ainda que a pessoa não tenha uma relação especial com a natureza, parece-me não ser difícil considerar uma portentosa harpia uma bela ave, caso nela se repare.

Contudo, quando a vida tem de sobreviver, geralmente não é identificada como bela. Se por um lado pode-se considerar um tigre um majestoso animal, não se considera esteticamente belo o momento em que ele estraçalha e sangra com poder a sua presa. Enxerga-se uma espécie de beleza estética no tigre, não no instante que ele trava luta pela sobrevivência.

Os vermes que se alimentam de carne putrefata no meio de qualquer mata são expressão da mesma Vida que engendrou uma harpia ou um tigre. Tudo é a mesma Natureza, que não se preocupa com estética ou com nossas outras construções culturais se tivermos de ser a presa. Assim como não nos preocupamos com estética, política ou física quântica se tivermos de ser os predadores.

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