Por diversas vezes já escrevi (aqui também) sobre minhas restrições quanto ao que a Globo exibe. Raramente assisto à emissora. Quando isso ocorre, não estou aqui em casa; a antena daqui estragou há uns vinte anos, e não vou trocá-la, pois a Globo não me faz falta. Bastam alguns minutos diante da emissora para que eu me sinta muito incomodado. Contudo, não sou obtuso; sei reconhecer méritos caso eu me depare com eles no canal dos Marinho (ou em qualquer outro meio).
Um dos pontos que me chamam a atenção na emissora é o cuidado com a linguagem; em especial, com a preservação do português. Lembro-me de que quando o campeonato brasileiro de futebol era disputado pelo sistema de partidas eliminatórias, a Vênus Platinada era um dos poucos meios de comunicação que não usavam a nomenclatura “play-off”. Em vez de dizerem, por exemplo, que o “play-off” seria realizado, a Globo sempre disse que os jogos decisivos seriam realizados. Lembro-me de ter lido nessa época que um consultor de português deles emitira memorando proibindo os profissionais da emissora de usarem “play-off”.
Há alguns dias, disseram-me que o Jô Soares havia sido entrevistado no Fantástico. Como não confiro o programa, fui até o Youtube, pois a matéria me interessou. Num determinado trecho, antes de anunciar a entrevista, um dos apresentadores, referindo-se a Jô Soares, disse que ele “foi pioneiro da comédia em pé”.
O fato de a Globo usar a expressão “comédia em pé”, em vez da expressão em inglês “stand-up comedy”, a mais usada, confirma a atitude da emissora de preferir o português a qualquer outro idioma, sempre que é possível dizer em português o que se pretende, ainda que a expressão em língua estrangeira já esteja sendo amplamente utilizada.
Reparem na ironia: num lugar em que as pessoas fazem de tudo para dizer ou escrever tudo em (ruim) inglês, a atitude da Globo chega a ser ousada (!). Tanto que quando comentei a questão em sala de aula (durante uma aula de inglês), os alunos não concordaram com a decisão do veículo de adotar “comédia em pé” em vez de “stand-up comedy”.
Obviamente, não é preciso assistir à Globo para se melhorar o português; há maneiras mais edificantes e menos prejudiciais para isso; a Globo não é imprescindível para isso nem para nada. No geral, entre o dispensável e o indispensável, considero a emissora muito dispensável. Presta mais desserviços do que serviços, é mais prejudicial do que benéfica, a despeito do cuidado com a preservação do português.
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