“Decamerão” era o livro. Fernando Borges era quem lia. Ele deixou por um momento as palavras, pois um vizinho, com o som alto, começara a tocar canção muito executada pelo rádio durante a infância de Fernando: “Não são palavras lindas”, cantada pelo Heleno. Inundado de amor, embora ainda não todo ciente disso, o leitor percebeu, de uma vez por todas, a imensidão do que estava sentindo à medida que a canção prosseguia. O lampejo fulminante e definidor que o inundou da certeza e dos tormentos do amor veio ao som do Heleno. Fernando sentiu o coração apertar. Lembrou-se do Zeca Baleiro: “Ando tão à flor da pele / Qualquer beijo de nova / Me faz chorar”. Por fim, deu um leve riso, suspirou e recomeçou a leitura.
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