De certo modo, é óbvio que escrevo este texto em virtude do clima político que o país vive. Contudo, a opinião que darei é tão antiga quanto eu, que só não sou tão antigo quanto a parvoíce de muito eleitor e a desfaçatez de muito político – ou quanto a desfaçatez de muito eleitor e a parvoíce de muito político. Nada de pensar que estou defendendo/atacando candidato “a”, “b” ou “z”. Este texto não é para isso – nem é uma referência (in)direta à política local.
O pensamento aristotélico de que “o homem é um animal político” não implica dizer que devamos ser animalescos ao manejar a política. Contudo, instintos e paixões primitivos são exteriorizados quando as pessoas lidam com ela.
É curioso como muitos eleitores se comportam como aqueles torcedores de futebol bobos, “cegos”, radicais e perigosos. Na tentativa de ser o animal político que efetivamente todos devemos ser, esses eleitores acabam prestando um desserviço à causa política e, por fim, ao ser humano como espécie.
Todos temos paixões, ímpetos, rompantes. O problema, claro, não é esse. O problema é que a política não deveria ser um jogo movido a pulsões atávicas. Em sentido geral, a essência da política não se faz no Brasil. O que se vê são eleitores cujo fervor só não deve ser maior do que seu radicalismo contraprodutivo.
Há uma aparência, um quê, um “status” de comprometimento, de cidadania, mas o que se efetiva é um envolvimento doentio, patológico e patético. Numa profusão de “ideologias”, há até espaço para a religião – mesmo num Estado que, em teoria, é politicamente laico. Idiossincrasias e picuinhas vão se avolumando e a sensatez é pilhada. O animal político se torna uma besta ludibriada.
Nesse sentido, sou descrente quanto à politicazinha que tem sido feita na Ilha de Vera Cruz. O que há é um arremedo de política, uma imitaçãozinha barata, “kitsch” e decadente. Quem dera houvesse um maior número de eleitores com uma boa dose de racionalidade e um maior número de políticos com uma boa dose de vergonha na cara – ou um maior número de eleitores com uma boa dose de vergonha na cara e um maior número de políticos com uma boa dose de racionalidade.
Nesse balaio torto, para coroar o circo triste, gente que se diz esclarecida e atuante fica rindo dos candidatos durante o horário eleitoral. Hora, deveriam, sim, é estar chorando, tamanha a profundeza do poço de ignorância – de quem está na TV e de quem está diante dela, rindo. Rir disso não é prova de senso de humor, pois nem o riso “salva” o que é deprimente. Não há graça na tragédia.
2 comentários:
Meu Caro amigo Lívio,
Ao contrário de você, sou um eterno otimista com a Ilha de Vera Cruz.
Somos ainda criancinhas nos braços da história. Há pouco menos de 125 anos ainda erámos escravagistas.
Lembro-me bem de como tudo mudou, e continua mudando.
Se pararmos para analisar, tudo mudou muito rápido, e pra melhor.
O que ocorre é que queremos vivenciar as mudanças, pois o tempo urge, mas nenhuma mudança efetiva é feita no imediatismo e à força, é conquistada a duras penas - erros e acertos - e uma população gradativamente mais consciente.
Ainda somos crianças...
Grande abraço.
Olá, Rusimário.
Quem me dera ser otimista como você. Se por um lado tenho noção de nossa "infantilidade", por outro, descreio da maturidade do País.
Obrigado pelo comentário.
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