Paca — E aí, doido? Beleza, Lontra?
Lontra — Beleza.
Paca — E a sua mãe? Tá melhor?
Lontra — Ela tá melhor. Sabe como é... Doença complicada...
Paca — Sei como é... Mas ainda bem que ela teve escolha. Ainda bem que não foi atendida pelo ZUZ.
Lontra — Ainda bem mesmo. Imagina se ela não tivesse grana... E essa doença logo agora... A loja dela tá indo tão bem... Ela disse que nunca ganhou tanto dinheiro... Tava até pensando em abrir uma segunda loja.
Paca — Pois é... Não é bom nem pensar se ela não tivesse grana... Sua mãe é uma figura. Graças a Deus foi beleza.
Lontra — Graças a Deus mesmo. Mas quem tinha que se ferrar é o barbudão...
Paca — Ah, vão fazer de tudo pra ele não se ferrar. Queria ver se ele fosse atendido pelo ZUZ.
Lontra — Eu também queria. Aí ele ia ver o que é bom pra tosse.
Paca — Mas aí a garganta dele ia melhorar...
Lontra — Você não perde uma... Eu tinha falado da tosse sem pensar no problema dele.
Paca — Eu sei. Mas pelo menos a gente vai ficar um tempo sem ouvir aquela voz horrorosa.
Lontra — É, menos mal. Mas acho que não adianta. Com esse monte de pobre rezando, vai que ele melhora.
Paca — Pior é que é. Esse povo lá de cima gosta muito dele.
Lontra — É, mas dessa vez acho que não tem pra ele não...
2 comentários:
Lívio,
O diálogo entre Lontra e Paca é ousado, vindo de você. Será preciso que o leitor realmente saiba as diferenças entre narrador e autor, personagem e autor, predisposições ideológicas de personagens e do próprio autor, e por aí vai. Às vezes tenho medo de não entenderem, embora um escritor jamais possa pensar assim. Sua ousadia está justamente aí. Parabéns por ela.
Luís André
Oi, Luís André.
Eu mesmo tive o medo de que não houvesse tal separação - e ela pode não ter havido.
Ainda assim, arrisquei, ironizando as baixarias e bobagens veiculadas recentemente. No Patos Hoje, acho que deixei as coisas mais claras, publicando, antes do texto, um cabeçalho que anunciava a ironia.
Obrigado por conferir. Grande abraço.
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