quarta-feira, 23 de março de 2011

APONTAMENTO 104

A literatura pode ser o drama de uma classe, é verdade, mas a grande força da literatura, ainda que venhamos, por intermédio dela, a conhecer profundamente uma classe, é a possibilidade de conhecermos o indivíduo. Dom Fabrizio, criação de Lampedusa, representa uma aristocracia decadente. Contudo, em literatura, sem se incorporar numa personagem essa representação perderia em densidade.

Dom Fabrizio é uma classe – sem deixar de ser, antes, um indivíduo. A força da literatura está nesse retrato individual: Babbit representa uma classe, mas o que nos prende é saber como vive esse personagem, saber o que ele pensa, o que ele faz. Mesmo o mais declarado romance histórico precisa de individualidades para que o texto se adense.

A literatura chega perto, esmiúça o indivíduo – que por sua vez é imagem fractal. A literatura pode prescindir das grandes-angulares para compor os cenários, mas as macros são imprescindíveis.

3 comentários:

Navegantes do Prazer disse...

Na minha ignorância, sinto a literatura apaixonada perdidamente pelo humano, e como tal, deseja "prendê-lo" na justeza de simples palavras... Impossível, porque sempre se escapa a essência por entre os vãos dos dedos!

Carinho,

Bruna Caixeta disse...

Lívio,
Ao que parece, antes de tudo, existe o indivíduo.
Muito bacana o seu texto.
Abraços,
Bruna.

Lívio Soares de Medeiros disse...

Olá, Navegantes. De fato, é difícil reter a essência, seja do que for.
_____

Bruna, valeu por conferir.