Assisti ontem ao documentário “Pro dia nascer feliz” (2007), do diretor João Jardim. O filme registra o cotidiano de escolas em Pernambuco, São Paulo e no Rio de Janeiro. A fotografia do material é um caso à parte – belíssima. A música é de Dado Villa-Lobos, que foi guitarrista do Legião Urbana.
O documentário é tão bom que evidencia duas temáticas extremamente profícuas e espinhosas: a precariedade do ensino público e o mundo dos adolescentes com seus dramas e preocupações.
Essa bifurcação temática não faz com que “Pro dia nascer feliz” padeça de unidade. Na caixa do DVD, lê-se: “Um diário de observação da vida do adolescente no Brasil em seis escolas”. Ao ler a frase, pensei que o documentário focaria a psicologia do adolescente, sem dar ênfase ao fracassado ensino público.
Mas logo no começo do trabalho as pífias condições físicas de uma escola no interior de Pernambuco são mostradas. A seguir, as pessoas vão entrando em cena.
O mundo escolar é mostrado sem maquiagem – a precariedade, a pobreza, a falta de comprometimento de alguns alunos e de alguns professores, o despreparo de alguns alunos e de alguns professores. O ambiente das escolas é mostrado como um todo. Até uma reunião do chamado conselho de classe é mostrada.
O documentário realiza a difícil “fórmula” de denunciar sem ser bobamente panfletário; é contundente e comedido.
Ao mergulhar nos ambientes juvenil e escolar, João Jardim vai revelando gradativamente alguns dos protagonistas do ensino: há entrevistas com alunos, diretores e professores. Hábil, o diretor conseguiu trazer à tona a densidade daqueles com quem conversou.
Escolas ricas e escolas pobres são visitadas. Em todas elas, a trajetória, as opiniões, os anseios, os sonhos e as ideias dos entrevistados.
Como não se comover com Valéria, 16, que mora no interior de Pernambuco? Ela tem nítido talento para lidar com as palavras – gosta de escrever, fala bem, gosta de ler. Mas é exceção num ambiente em que não são oferecidas condições para o crescimento intelectual do jovem. Como ficar indiferente quando o diretor passa a mostrar a realidade de uma escola frequentada pelos ricos de São Paulo? É muito contraste.
Não bastasse toda a densidade com que já está lidando, o documentário não se esquece de que o mundo da juventude não é só a sala de aula. E, novamente, prevalecem o bom senso e a sensibilidade do diretor, ao abordar a questão de que escola e adolescentes estão num contexto social e familiar que pode ser cruel.
Em meio a tantas dificuldades, talentos são calados, potenciais se desvanecem. Maysa, 16, resume bem: “Às vezes eu acho que é um pouco violento esse jeito como se vive: as pessoas têm que deixar de lado aquilo em que acreditam para se conservar vivas”.
O adolescente num mundo caótico e violento. Sejam ricos ou pobres, fica patente no documentário a fragilidade de jovens que são também vítimas de uma sociedade cheia de desamparo e violência.
A maneira como jovens pobres e ricos expõem seus dramas é sintomática. Com exceções, os pobres não têm a mesma capacidade de articulação verbal dos ricos. Isso acaba sendo mais uma evidência retumbante do fracasso do ensino público.
Incrível, escutar da muito pobre, inteligente e lírica Valéria, aquela de Pernambuco: “Eu deveria ter uma péssima impressão da vida se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver”.
O documentário é tão bom que evidencia duas temáticas extremamente profícuas e espinhosas: a precariedade do ensino público e o mundo dos adolescentes com seus dramas e preocupações.
Essa bifurcação temática não faz com que “Pro dia nascer feliz” padeça de unidade. Na caixa do DVD, lê-se: “Um diário de observação da vida do adolescente no Brasil em seis escolas”. Ao ler a frase, pensei que o documentário focaria a psicologia do adolescente, sem dar ênfase ao fracassado ensino público.
Mas logo no começo do trabalho as pífias condições físicas de uma escola no interior de Pernambuco são mostradas. A seguir, as pessoas vão entrando em cena.
O mundo escolar é mostrado sem maquiagem – a precariedade, a pobreza, a falta de comprometimento de alguns alunos e de alguns professores, o despreparo de alguns alunos e de alguns professores. O ambiente das escolas é mostrado como um todo. Até uma reunião do chamado conselho de classe é mostrada.
O documentário realiza a difícil “fórmula” de denunciar sem ser bobamente panfletário; é contundente e comedido.
Ao mergulhar nos ambientes juvenil e escolar, João Jardim vai revelando gradativamente alguns dos protagonistas do ensino: há entrevistas com alunos, diretores e professores. Hábil, o diretor conseguiu trazer à tona a densidade daqueles com quem conversou.
Escolas ricas e escolas pobres são visitadas. Em todas elas, a trajetória, as opiniões, os anseios, os sonhos e as ideias dos entrevistados.
Como não se comover com Valéria, 16, que mora no interior de Pernambuco? Ela tem nítido talento para lidar com as palavras – gosta de escrever, fala bem, gosta de ler. Mas é exceção num ambiente em que não são oferecidas condições para o crescimento intelectual do jovem. Como ficar indiferente quando o diretor passa a mostrar a realidade de uma escola frequentada pelos ricos de São Paulo? É muito contraste.
Não bastasse toda a densidade com que já está lidando, o documentário não se esquece de que o mundo da juventude não é só a sala de aula. E, novamente, prevalecem o bom senso e a sensibilidade do diretor, ao abordar a questão de que escola e adolescentes estão num contexto social e familiar que pode ser cruel.
Em meio a tantas dificuldades, talentos são calados, potenciais se desvanecem. Maysa, 16, resume bem: “Às vezes eu acho que é um pouco violento esse jeito como se vive: as pessoas têm que deixar de lado aquilo em que acreditam para se conservar vivas”.
O adolescente num mundo caótico e violento. Sejam ricos ou pobres, fica patente no documentário a fragilidade de jovens que são também vítimas de uma sociedade cheia de desamparo e violência.
A maneira como jovens pobres e ricos expõem seus dramas é sintomática. Com exceções, os pobres não têm a mesma capacidade de articulação verbal dos ricos. Isso acaba sendo mais uma evidência retumbante do fracasso do ensino público.
Incrível, escutar da muito pobre, inteligente e lírica Valéria, aquela de Pernambuco: “Eu deveria ter uma péssima impressão da vida se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver”.
2 comentários:
Esse documentário é realmente incrível, Lívio! Foi a minha vitrine, qdo fiz minha primeira matéria de Psicologia Escolar... acho incrível as maneiras possíveis de se olhar pro contexto escola e, através desses olhares, transformá-lo ou não.
E a Valéria marca demais a gente. Dá vontade de trazer ela pra perto e dar pra ela tanta variedade de ferramenta - q aqui a gente tem, né?! - como se ela precisasse... =)
Mto legal o post.
Gabriela, a Valéria é mesmo marcante, não? Que pérola. E é curioso: pensei algo parecido com o que você pensou. Que vontade de tirar aquela menina de lá! Quanto talento, quanta inteligência... Como assisti ontem ao documentário, ainda estou pensando muito sobre ele. Tanto é que pretendo assisti-lo novamente.
Grato por conferir.
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