domingo, 30 de agosto de 2015

MORRE OLIVER SACKS

Oliver Sacks morreu hoje. No dia dezenove de fevereiro deste ano, ele publicou, no jornal The New York Times, uma carta de despedida. Sacks tinha câncer.

Por algumas vezes, escrevi sobre os médicos. Em especial, sobre a questão de que muitos deles estão se esquecendo de que os pacientes são, antes de qualquer coisa, gente.

Matéria publicada hoje por The New York Times tem frase de Sacks referindo-se a A. R. Luria, que Sacks muito admirava. Segundo o médico americano, com Luria, “a ciência se tornou poesia”.

Também Sacks fez a ciência ficar bonita. Nesse sentido, foi poeta. Pena que muitos médicos, que tratam pacientes como fardo, não se inspirem em Sacks. Hoje, a ciência ficou menos bonita. 

CELESTIAIS


Ambas as fotos foram tiradas ontem. A do pôr do Sol, às 17h45; a do nascer da Lua, às 18h36. 

HADDAD E O ZÉ RODINHA

Fernando Haddad, em São Paulo, tem sido criticado por quem o Mauro Cezar Pereira, da ESPN, chama de Zé Rodinha: dentre as características do Zé Rodinha, uma é ser contra a faixa para ciclistas. Para ele, a cidade é só dos carros. Há alguns dias, um motorista, num veículo, depois de xingar uma ciclista que se valia da faixa destinada a bicicletas, disse à mulher que São Paulo não é Amsterdã. Mas nem tudo é boçalidade. Aqui em Patos, dias atrás, numa academia, havia uma jovem usando uma camiseta com seguintes dizeres: “No Haddad, no gain

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

(DES)APONTAMENTO 35

Nem todo livro que fica em pé sozinho se sustenta quando lido. 

(DES)APONTAMENTO 34

Evite trocadilhos inevitáveis. 

(DES)APONTAMENTO 33

A telepatia é precursora dos dispositivos de comunicação sem fio. 

ROCK IN RIO

O Rock in Rio proibiu o uso de pau de “selfie”.  A ideia é tentar fazer com que as pessoas olhem para o palco durante os shows.
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O Rock in Rio proibiu o uso de pau de “selfie”. O pessoal vai ter de se virar com as próprias mãos. 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

COMO SE DAR BEM

A maioria das pessoas quer se dar bem na vida. Dar-se bem na vida pode ter significados diferentes. Para um, seria morar em Fernando de Noronha; para outro, em Paris. Não importa onde se queira estar, as dicas abaixo são infalíveis para os que querem se dar bem no mundo corporativo, embora possam ser usadas em outros ambientes.

Os truques a seguir foram reunidos por uma equipe de profissionais que se deram bem nos locais em que trabalham. Todos eles ocupam hoje cargo de chefia nas empresas em que estão. Mesmo atarefados, reuniram-se e elaboraram o documento que se segue, dando provas da benevolência que têm. A enumeração adotada não diz respeito a hierarquia, mas a didatismo. Eis os macetes.

1. Elege um inimigo — qualquer um

A tática é ótima. Se quiseres jeito eficaz e rápido de chegar a teus objetivos, inventa um inimigo. A turba ficará tensa, não terá paz. Por causa disso, o populacho divulgará boatos, distorcerá fatos — inventando uma gravidade que não se confirma se confrontada com a realidade. Um ambiente instável é terra fértil para espertalhões. És ou não um espertalhão?

2. Tergiversa

Conta com a falta de memória das pessoas. Se, por acaso, alguém te interpelar, se, por acaso, alguém perceber algum deslize teu, cria tergiversações. Um blá-blá-blá qualquer, de preferência cheio do politicamente correto, tem eficácia. Vai a algum meio de comunicação e dá qualquer declaração. Jornais, revistas, sítios, emissoras de televisão e de rádio gostam dessas coisas.

3. Semeia, sem plausibilidade, o pânico

Eleger um inimigo e semear o pânico são coisas diferentes. Todavia, as duas estratégias, que correm paralelas, podem se tocar num ponto ou noutro. O pânico não precisa estar personificado, embora possa ser representado por um “inimigo”, por uma pessoa. Não estando numa pessoa, a criação do pânico pode estar numa ideia, num boato, numa mentira. A rigor, quanto mais etérea for a causa do pânico, melhor. Para dar credibilidade a teu embuste, contrata profissionais que darão aura de ciência a teus caprichos. De preferência, profissionais raivosos, rancorosos. Mas lembra-te também dos falsamente comedidos. Há uma parcela da população (embora seja minoria) que, mesmo sendo facilmente enganada, não quer saber de gritaria.

4. Fala alto

Quando se fala alto, confere-se autoridade ao que se fala. Autoridade falsa, enganosa. Estratégia que convence os tolos; por isso, convence a maioria. Fala alto, bate na mesa. Manha antiga, porém eficaz. O vozerio não tem capacidade para apreciar sutilezas, mas se impressiona com berros sem sentido.

5. Mente

Parece desnecessário elencar esse preceito. Mesmo assim, ei-lo. Sê teatral. Se tiveres dificuldade, procura um ator profissional; aprende com ele truques, macetes, poses, expressões, gestos. Capricha na fala, cuida da voz, investe em roupas. Não importa o que tu és; o que importa é a imagem que passas; o que importa é o que pareces ser. Mente descaradamente. Teu interesse está acima da verdade.

6. Nega evidências

Vez ou outra algum espertinho vai apontar tuas incongruências, vai desnudar aquilo que está óbvio, mas que não é percebido pela multidão. Se perceberes que as coisas podem se complicar, nega as evidências, nega o óbvio. Maquia tuas mentiras caso sejam flagradas. Faz isso sem medo. Lembra-te de que os incautos não têm inteligência para perceber a essência das coisas. Uma maquiagem caprichada esconderá deles qualquer evidência.

7. Tem preconceitos

São indispensáveis. Não se pode ter medo de ostentá-los. Quem deseja o poder não pode deixar de ter preconceitos. Não importa o alvo que escolheres. Não importa se mulheres, se homossexuais, se negros, se estrangeiros, se todos eles. Caso não tenhas preconceito, forja pelo menos um. Essa artimanha seduz os tolos; tu precisas da tolice.

8. Esquece a lógica

Se quiseres o poder com a essência do que és, esquece a lógica. Melhor dizendo: cria tua própria lógica, que não precisa estar em sintonia com a lógica verdadeira. Contradições, rompantes, mentiras, textos que se contradigam. Tudo é válido, tudo pode ser útil para ti, desde que embrulhado em papel de boa aparência.

9. Ignora o bom senso

Desconsidera o que tem solução fácil. O que importa é teu modo de fazer as coisas, o teu jeito de resolvê-las. Se alguém sugerir para ti uma solução mais prática, rápida e fácil, desconsidera. Quando for o caso, dá um tempo e depois implanta a solução sugerida por outrem como se ela fosse tua. Não deves obediência a nada, a não ser a tuas próprias vontades.

10. Bajula

Sem bajular, não chegarás ao poder. Bajula principalmente aqueles que tu queres derrubar. Lembra-te, contudo, de também bajular aqueles que não queres prejudicar. Esquece os que estão no baixo escalão. Bajula os grandes. Sê agradável com eles. Mente para eles. Diante deles, inventa para eles qualidades que não têm, faz de conta que tens interesse nas vidas deles, finge achar graça das piadas — comumente ridículas — que contam.

11. Age como se tivesses cultura

Colhe nas redes sociais algumas citações. Ninguém nunca leu uma linha, por exemplo, de Shakespeare. Pega uma frase tolinha qualquer e diz que é do escritor inglês. Ou do Einstein. Ou do Churchill. Ou do Pelé. Escolhe um nome conhecido; ou um desconhecido. De vez em quando, não importa se num contexto formal ou se no cafezinho da tarde, anuncia, em tom de suposta sabedoria, uma dessas frases, ligando-a a algum nome. Diz, por exemplo, “‘é preciso acreditar em si mesmo para se conquistar o que se quer, é preciso ter garra, é preciso ter perseverança, é preciso ter foco, é preciso passar por cima dos obstáculos, principalmente quando os obstáculos forem pessoas’, como bem nos ensina Wittgenstein”. Teus colegas de trabalho ficarão impressionados. Com duas ou três atuações dessas, adquirirás fama de culto.

12. Repete chavões (abrem mais do que portas)

Teu discurso não pode ser inovador. É preciso que capriches na dicção, é preciso que moldes a voz. Contudo, é necessário que tu te lembres de que esses cuidados não implicam um discurso original. Esquece os filósofos, esquece os sábios, esquece os pensadores, ignora os escritores, ignora leituras úteis; desconsidera tiradas inteligentes, passa ao largo de algo que lembre perspicácia, brilhantismo, originalidade. Repete lugares-comuns, colhe citações em sítios de autoajuda. Sê piegas, sê superficial. Teu alvo é a maioria. A maioria é ignara. A maioria não merece que tenhas escrúpulos. 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

APONTAMENTO 278

Transforma em arte o que tens de pior. Isso vai melhorar o que tens de melhor. 

APONTAMENTO 277

Não confundir tenacidade com rosnados. Estes têm fúria; aquela pode ter silêncio. 

domingo, 23 de agosto de 2015

TITO, O HORRENDO

Este é Tito, meu cachorro. 

SONORO

Que minha voz,
junto a teu corpo,
reverbere nas curvas
de tua orelha.
Que minha voz, 
junto a teu corpo,
passeie em tua
pele eriçada. 

sábado, 22 de agosto de 2015

(DES)APONTAMENTO 32

Para os que acreditam, a vida que levamos, cheia de atribulações, de dificuldades, é um estágio para que se tenha algo melhor depois do instante da morte. Caso se queira um corpo saudável, em forma, é preciso praticar atividade física e cuidar da alimentação. O dinheiro, quando vem, não costuma vir fácil; para que se chegue a ele, é preciso percorrer um caminho difícil. Como um todo, as agruras vêm antes, o prazer vem depois. Com o álcool, o processo se inverte — as delícias vêm antes das ressacas. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

GENTILI

Recentemente, Danilo Gentili ironizou convite de Maurício Meirelles, humorista, para que o apresentador do SBT se apresentasse em Boa Vista, capital de Roraima. Eis a resposta de Gentili: “Show em Roraima? Tá louca que vou fazer show nessa bosta de lugar? Vocês vão pagar meu cachê com o quê? Com peixe ou com prostitutas? Prefiro fazer show no inferno”.

O Danilo Gentili é engraçado (mas nem tanto assim) quando diz que é humorista. 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

NO CONSULTÓRIO

— Do que exatamente você tem vergonha?
— De existir. 

DOS LAPSOS

Hoje pela manhã, para aula de inglês, levei três textos: a letra da canção “Cool kids”, do Echosmith, a crônica “Os diferentes”, do Artur da Távola, e uma postagem de ontem, sobre moda, da Cynara Menezes.

No que entrego os textos para os estudantes, um deles logo me pergunta: “Ué, Lívio, o título da música é esse mesmo?”. Confiro o que eu digitara. Em vez de “Cool kids” (“Garotos descolados”), digitei “Cook kids”. “Cook” é o verbo “cozinhar”. Terá sido reminiscência de “Modesta proposta e outros textos satíricos”, do Swift?... 

APONTAMENTO 276

O brasileiro não convive bem com o brasileiro. Quando muito, suporta-o. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

CACHORROS E TUCANOS


Ontem, na Avenida Paulista, em São Paulo, manifestante concedeu entrevista para a Jovem Pan. Quando o repórter da emissora perguntou para o transeunte sobre o motivo pelo qual ele estava com o cachorro dele na manifestação, o entrevistado disse que decidira levar o quadrúpede para, com isso, simbolizar a cachorrada que, segundo ele, a política brasileira se tornou.

O manifestante fez bem em levar um cachorro. Afinal, se tivesse levado, por exemplo — e apenas por exemplo —, um tucano, o cidadão poderia ter se encrencado, pois a ave, de bela plumagem, não pode ser presa. 

domingo, 16 de agosto de 2015

SOBRE FOTO À VENDA

Sei que eu saiba o motivo pelo qual isso tenha ocorrido, esta é a foto minha mais comercializada no Alamy, banco de imagens por intermédio do qual vendo parte de meu acervo fotográfico. A imagem está longe de ser a minha preferida, mesmo levando-se em conta somente as que estão no Alamy.

Se quiser conferir mais de meu trabalho à venda no banco de imagens, basta clicar aqui. Caso se interesse em adquirir alguma das imagens, isso pode ser feito via Alamy. Mas, se preferir, entre em contato direto comigo, deixando comentário (que não será publicado) nesta postagem. 

VASCO FORA DE CAMPO

A falta de educação não implica o fiasco; de modo análogo, a gentileza não assegura o êxito. Ainda assim, a campanha horrorosa do Vasco no primeiro turno do campeonato brasileiro tem se mostrado um fiasco fora de campo também.

Ontem, demitiram o Celso Roth. Até aí, nenhum problema, mesmo tendo-se noção de que ele não é o responsável único pela campanha irrisória do Vasco. Mas, em última instância, os cartolas têm o direito de contratar ou de demitir quem quiserem, por mais estapafúrdias que sejam tais demissões (geralmente são).

Quem anunciou que Roth não seria mais o técnico do Vasco foi o vice-presidente de futebol da equipe, José Luis Moreira. Ele foi lacônico: “O treinador tá fora (...). Celso Roth tá fora do Vasco”. A brevidade ou a objetividade não são problemas. Aliás, são até recomendadas. A questão do cartola do Vasco foi o tom que ele usou.

Ele foi deselegante, mal-educado. A grosseria dele ficou ainda mais evidenciada quando, minutos depois, Roth concedeu entrevista plena de civilidade. Não há como saber o que houve nos bastidores; julgando pelo que foi ao ar, ficou claro o grau de “profissionalismo” dos que mandam no Vasco.

Não vale o argumento de que o dirigente estava, por assim dizer, de cabeça quente. Além do mais, esses momentos são mais reveladores do que as calmarias. Quando reassumiu, o Eurico Miranda disse que o respeito voltara. Não é o que o primeiro turno do torneio demonstrou. No segundo, a equipe terá de fazer muito para fugir do rebaixamento. O torcedor da equipe merece mais — dentro e fora de campo. 

APONTAMENTO 275

A fome não é uma boa conselheira quanto ao sabor dos alimentos. 

APONTAMENTO 274

Lá no alto, o urubu é o ponto nas frases azuis que o céu de agosto escreve. 

APONTAMENTO 273

Se é do Haiti, atacam. Se é da Europa, bajulam. 

APONTAMENTO 272

A manha não é escrever nem falar sobre tudo, mas sobretudo. 

A FORÇA DE CAETANO

De vez em quando, acordo com vontade de escutar determinado artista. No dia treze, quinta-feira, acordei querendo escutar Caetano Veloso. Acho que foi devido ao ocorrido com imigrantes haitianos no dia primeiro deste mês, em São Paulo. É que desde então tenho me lembrado de “Haiti”, do Caetano.

Na quinta, mal tendo me levantado, passei a escutar várias canções do baiano (dentre elas, “Haiti”). Enquanto eu ia escutando, a força das letras do artista foi tomando conta. São letras tão poderosas, que não é exagero dizer que Caetano não faz “apenas” música — ele é criador também de literatura. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

EM FORMA

Tu és a beleza. 
A beleza em forma. 
A beleza em forma de gente. 
Em minhas mãos, 
que tu sejas beleza
em forma de poesia. 

PROGRAMA CONTA-GOTAS EM MAIS UM HORÁRIO

ARQUIVO

Texto escrito, 
eu o salvei no
disco rígido. 
Ficou guardado
por tempo demais. 
Todo o computador
já cheirava a mofo. 

APONTAMENTO 272

A verdade é que sempre dependi de quem escreve bem. Também por isso sempre fui um leitor de revistas: os elegantes editoriais de Almyr Gajardoni nos primórdios da Superinteressante, os textos que Ailin Aleixo escrevia para a Vip, os ensaios de Sérgio Augusto para a Bravo!, o humor de Verissimo e de Millôr nas publicações por que passaram... Continuo sendo um leitor de revistas. Recentemente, achei mais uma razão para continuar assim: Cynara Menezes, com a coluna Boteco Bolivariano, na Caros Amigos. 

sábado, 1 de agosto de 2015

DUAS MÃES

Mãe 1

Eram mais ou menos sete e vinte da manhã. Eu começaria a dar aula às sete e meia. Ao lado de onde eu trabalhava, havia uma padaria; eu estava tomando café. Foi quando chegou um garoto de uns, suponho, treze, catorze anos; a mãe o acompanhava.

— Mãe, me dá uma Coca-Cola.
— Meu filho, já falei com você. O café da manhã é uma refeição importante: você precisa se alimentar melhor...
— Mãe, me dá uma Coca-Cola.
O garoto recebeu o refrigerante.
— Mãe, quero uma esfirra.
— Meu filho, não é hora de comer essas coisas. Café da manhã é hora de comer frutas, de tomar leite...
— Mãe, quero uma esfirra.

O garoto a recebeu.
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Mãe 2

Eu estava num supermercado. Próximo à seção de chocolates, havia um garoto de uns, presumo, cinco ou seis anos. Ele seguia ao lado da mãe.

— Mãe, quero um chocolate.
— Já falei que você não deve ficar comendo essas coisas com frequência. Você vai comer chocolate quando eu disser que você pode comer chocolate.
— Mãe, me dá um chocolate!
— Você não vai ganhar chocolate hoje. Pronto e acabou.
O garoto começa a chorar bem alto. Exalta-se. Dá birra. Deita-se no chão, gritando. A mãe, de olhos arregalados, olha para o menino. Mesmo diante da situação, ela conferiu um tom calmo à voz:
— Hum, então o senhor agora aprendeu a dar birra. Pois fique aí com seu chilique. Eu tenho mais o que fazer.

Dizendo isso, a mãe saiu empurrando o carrinho de compras. O menino, cujos berros já podiam ser escutados em todo o supermercado, gritou mais alto ainda. A mãe, conseguindo aparente impassibilidade, continuou se afastando do garoto. Tendo chegado ao fim de uma das prateleiras, virou à esquerda, sem olhar para o filho, que parou, súbito, de chorar. Esperou alguns segundos. Não tendo mais notícia da mãe, saiu correndo atrás dela.