quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Quatro homens e meio

Levei um susto há pouco. Diante da manchete “homens estão casando com 4,5 homens ao mesmo tempo”, eu a li assim: “Homens estão casando com quatro vírgula cinco homens ao mesmo tempo”; ou então assim: “Homens estão casando com quatro homens e meio ao mesmo tempo”.

Ainda sem entender nada, leio que a fala é atribuída à ministra Damares. Pensei então: “Vindo dela, tudo é possível”. Quando assisti ao vídeo, entendi que a leitura minha deveria ter sido esta: “Homens estão casando com quatro, cinco homens ao mesmo tempo”. Três coisas contribuíram para meu erro: eu mesmo, a Damares e o fato de o redator ter escrito o trecho “casando com 4,5 homens” sem espaço depois da vírgula. Uma redação um pouco melhor seria “homens estão casando com 4, 5 homens ao mesmo tempo”, ou, melhor ainda, “homens estão casando com quatro, cinco homens ao mesmo tempo”.

Precisamente por ser a Damares, ainda fiz, a fim de me divertir, uma rápida conta. Se a ideia fosse a de que um homem estivesse se casando com quatro homens e meio, para se ter números (e seres) inteiros, haveria então que dois homens estariam se casando com nove.

À parte minha incorreta interpretação, fiquei me perguntando de onde a Damares extraiu o dado de que “homens estão casando com quatro, cinco homens ao mesmo tempo”. Terá sido pesquisa realizada durante o “mestrado” dela?
_____

O texto acima está em meu perfil no Facebook. Elisa Guedes Duarte, cronista e leitora, deixou comentário na rede social: “De toda forma, Lívio, fiquei confusa. Um homem está casando com 4 homens ao mesmo tempo? Está falando de homossexuais polígamos? Seriam haréns gays?”.

Elisa, conforme resposta dada por mim após seu comentário no Facebook, não sei como seria a “logística” de acordo com o “pensamento” da ministra Damares. Ainda assim, tentarei imaginar possíveis cenários, indagações sobre como os enlaces dar-se-iam.

Para que o raciocínio se desdobre, imaginemos, a princípio, cinco hipotéticos homens cujos nomes, para o que importa agora, seriam A, B, C, D e E. A ministra disse que “homens estão casando com quatro, cinco homens ao mesmo tempo”. Digamos, então, que A tenha se casado com B, C, D e E. Nesse caso, B poderia se casar com C, D e/ou E? Ou B, nesse arranjo, teria de se casar com F, “que não tinha entrado na história”? Do que também não sei, é se A, tendo se casado com B, C, D e E, teria de escolher um deles para viverem sob o mesmo teto ou se todos teriam as chaves da mesma casa. Ou isso seria decisão de cada grupo de consortes?

As perguntas são retóricas, tentativas de entendimento sem resposta, pois somente a ministra poderia responder aos questionamentos. Mas posso estar sendo injusto: as respostas podem estar, quem sabe, numa goiabeira ou na “dissertação” de Damares. 

Nenhum comentário: