sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A lama do negócio

Dependendo do anúncio que estejam criando, é natural agências publicitárias buscarem linguagem descontraída. Essa linguagem ou o tom coloquial, por si, não são erros nem indícios de falta de domínio do português. Ainda assim, há casos em que as agências pecam em seus textos por não contarem em suas equipes nem com redatores que tenham algum domínio do idioma em que escrevem nem com revisores que tenham olhar de lupa para os anúncios que serão veiculados.

Agências publicitárias adoram dizer que cuidam bem da imagem do cliente. Todavia, negligenciar o português é sintoma de descuido dessa imagem. O dono de uma empresa pode até não ter ciência das dificuldades da língua portuguesa, mas ele não gostaria de saber que há erro em anúncio de sua empresa.

O curioso na história é que, não raro, as agências dão menos importância ao português até quando divulgam ou comentam o próprio trabalho. Por um lado, aprenderam a editar bem as imagens, a criar “layouts” bonitos, envolventes, modernos, agradáveis; por outro, no todo, agências publicitárias não contam em seus quadros com redatores preparados.

Numa olhadela em textos produzidos por algumas empresas de publicidade, eu me deparei com “padrão estético suave [...] mais cheio de significados”, “sintetizamos às principais áreas”, “é isso meus amigos”, “arrazo”, “os profissionais que compõe nossa seleção”... Com exceção deste último, fossem os trechos que citei interpretados por um locutor, e não textos em telas de computadores e de celulares, não haveria problema. Só que assim como uma foto amadora ou um “layout” canhestro deporiam contra uma agência e contra o cliente que ela atende, um texto desleixado depõe contra também.

Por melhores que tenham sido o atendimento e os bastidores de uma campanha, o que chega ao público deve ser profissional. O que se vê na publicidade nacional é o desconhecimento de noções básicas da língua portuguesa. Nomes como Fernando Pessoa escreveram anúncios publicitários e teorizaram sobre a propaganda. Redatores de agências não têm a obrigação de serem literatos, mas têm o dever de saber os rudimentos do idioma em que escrevem. Isso também é cuidar bem do cliente, é respeitá-lo, é ser profissional.

O português vacilante conspurca o que pode estar visualmente bonito ou bem interpretado numa locução. É nítido o quanto o pessoal da publicidade e da propaganda lida bem com programas de edição de fotos, de vídeos e de áudios, bem como é claro o quanto lidam mal com as palavras. Mas, elas, as agências, parecem não se importar com isso. Nem os clientes. 

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