sábado, 7 de abril de 2018

Uma ideia

Nunca duvidei de que prenderiam Lula. Era questão de tempo. Levando-se em conta o ataque de décadas contra ele, demoraram. É que quiseram dar um ar de legalidade e de civilidade aos preconceitos e ao ódio que têm.

Claro que não concordo com as estratégias sujas deles, embora esteja por demais evidente que obtiveram sucesso. Isso prova que o êxito, dependendo do que o causa, depõe contra os bem-sucedidos.

O impedimento de Dilma, o acordo entre judiciário, imprensa e meios de comunicação, a prisão de Lula... Mas não se iludam: a elite perniciosa que o Brasil tem só vai sossegar quando Lula morrer. Por causa do fanatismo dessa elite, ele vai morrer no cárcere. Aí, sim, o plano deles terá recebido o que querem.

Haverá júbilo entre eles. Serão estrepitosos (assim como estão sendo agora). Talvez coloram as ruas vestidos com camiseta da CBF; alegarão patriotismo, terão orgulho em dizer que fizeram tudo pelo bem do Brasil. Sabemos que é para o bem deles, e, no caso desse pessoal, o bem deles implica impedir que aqueles que não são do time deles possam ter algo. Quem não é do time deles tem de ser erradicado, assim como vão erradicar Lula.

Em discurso realizado hoje, ele disse: “Eu vou sair de lá [da prisão] de cabeça erguida e de peito estufado”. Não acredito que ele vá sair vivo do cárcere. Não se trata de exercício barato de adivinhação nem de pessimismo de minha parte. Para afirmar isso, levo em conta o que a direita tem feito contra o Lula. Não vão deixá-lo sair vivo da prisão.

Mas ele mesmo se definiu, no mesmo discurso de hoje: “Eu não sou um ser humano, sou uma ideia”. Isso, sim, não há direita que mate. Nem a Globo nem a Veja nem o judiciário são capazes de matar a ideia de um Brasil para todos. Ela está em mim, ela está em você. Nós somos transitórios, Lula é transitório. A ideia, não. Ela já existia antes de nós, antes do Lula; ela existe, vai continuar existindo.

O corpo de Lula vai ficar na prisão. A história escancara o que fazem com o corpo de quem tem uma ideia: encarceram, torturam, matam. Mas o corpo que expressou uma ideia não ficou sozinho. A multidão de corpos se faz num mesmo espaço, num mesmo tempo. A multidão de ideias não depende do mesmo instante nem do mesmo local para existir. Vez ou outra, nossos corpos podem estar juntos. Mesmo quando não estiverem, mesmo quando eu tiver ido embora, mesmo quando você tiver ido embora, a ideia de um país que é também dos pobres vai existir. Isso independe de mim, de você, do Lula e das sacanagens da direita.

Uma ideia, a princípio, pode parecer vaga, etérea, imprecisa. Não é. Uma ideia é o auge do corpo; depois que ela sai da cabeça, não pode ser aprisionada. Engana-se quem pensa que apagar um corpo é apagar o pensamento. Nesse percurso, a direita ainda fará várias vítimas. Mas isso não impede nem vai impedir estes nossos corpos e outros corpos vindouros de disseminarem ideias e sonhos. 

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