quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

“Gilbert Grape: Aprendiz de sonhador”

É comum a ideia de que livros ruins geram filmes bons e a de que livros bons geram filmes ruins. Há exceções. “Drácula”, do Coppola, é um filmão baseado num grande livro. Não sei se “What's eating Gilbert Grape”, de Peter Hedges, é um grande livro, mas ele é a base de um grande filme, de 1993, que em inglês tem o mesmo título do livro. Releve o título brega que o filme recebeu em português (Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador). É um filmaço. O diretor é Lasse Hallström; Peter Hedges é também o autor do roteiro do filme.

Há as atuações de Leonardo DiCaprio, que tinha dezenove anos na época, e de Johnny Depp, então com trinta anos. Depp interpreta o Gilbert Grape do título; Arnie, interpretado por DiCaprio, é irmão de Gilbert. Arnie tem problemas mentais. Quem cuida dele a maior parte do tempo é Gilbert. A mãe deles é Bonnie Grape. Ela é interpretada por Darlene Cates, que morreu em março do ano passado. Ela tinha obesidade mórbida. Bonnie Grape foi um dos poucos papéis dela no cinema.

Este trabalho de Lasse Hallström tem o maior dos apelos que uma narrativa pode ter: é uma boa história. Sei que isso soa impreciso, turvo, mas sabemos reconhecer uma grande história quando estamos diante de uma. “Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador” não precisa apelar para firulas técnicas a fim de convencer e de sensibilizar. A poderosa narrativa fala por si.

Um grande filme não precisa ter espiões, magnatas, gente com superpoderes. Personagens assim podem estar em belos filmes; mesmo assim, é bonito assistir a uma produção em que a força das pessoas está exatamente nos dramas por que passam em suas “vidinhas”. Não é fácil produzir arte a partir de personagens tão triviais. A maioria de nós é gente sem nada de acachapante. Todavia, trabalhos como “Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador” não nos deixam esquecer de que as pequenas-grandes lutas da maioria de nós todos os dias podem assumir dimensões artísticas ou grandiosas. 

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