domingo, 20 de agosto de 2017

Love

A arte ruim explica tudo. Isso não quer dizer que a arte boa não explique nada. Precisamente por ser arte, ela não tem a obrigação de explicar, mas, é claro, precisa fazer algum sentido. Quando li a sinopse de Love (2011), disponível na Netflix, eu me interessei pelo filme. Comecei a assisti-lo numa madrugada qualquer. O sono veio. Deixei para assistir numa outra ocasião.

Terminei há pouco. Love é humanista, a despeito da cara de ficção científica que tem. Funciona como um filme de ficção científica, mas como toda obra de arte boa, não importa o gênero nem o meio de que se valha, encerra uma verdade humana. Love explica pouco e sugere muito. Todavia, o que é sugerido autoriza algumas possíveis conclusões ou interpretações.

William Eubank é diretor e roteirista do filme. Lee Miller [Gunner Wright] é astronauta e está na estação espacial quando perde contato com a Terra. A partir daí, ele tenta, no ambiente claustrofóbico em que está, preservar a sanidade. A certeza do não contato com a Terra é definitiva quando é sugerido que um evento catastrófico dizimou a humanidade. Miller, na órbita do planeta em que nascera, é o último humano.

Em determinado momento, ele se depara com um livro, que é o diário de um soldado que havia lutado na Guerra de Secessão, nos EUA. Tendo recebido autorização para abandonar seu regimento, o soldado deixa o campo de batalha com a missão de investigar um estranho objeto numa cratera.

À medida que eu ia assistindo ao filme eu ficava me perguntando como o roteiro amarraria eventos tão dispersos entre si. Na abertura, há imagem da Terra, mostrada parcialmente; logo a seguir, cenas da guerra civil americana; pouco minutos depois, o espectador está novamente no espaço (esses momentos iniciais acabaram me remetendo àquele imenso corte temporal de 2001: uma odisseia no espaço, quando um osso arremessado por um símio se “torna” uma nave no espaço). Enquanto Miller tenta manter-se racional na estação espacial, há cenas de pessoas dando testemunhos simples sobre vivências que tiveram. Nos minutos finais do filme, tudo isso faz sentido (ou parece fazer).

Os átomos de que cada um é feito são os átomos de toda a humanidade, de tudo o que existe. Em seu desfecho, é como se Love fosse a versão imagética das belas sugestões de Walt Whitman, as quais afirmam que cada um é todos os outros. Não bastasse a beleza disso por si, a poética e bonita sequência final do filme relativiza o micro e o macro, além de mergulhar o homem numa poderosa beleza atômica e universal. 

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