quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O poeta Bob Dylan

Bob Dylan foi anunciado o Nobel de literatura de 2016. Lembro-me da primeira vez em que li a letra de “Blowin’ in the wind” — eu tinha uns doze anos; a escola de inglês em que eu estudava havia distribuído um livreto com as letras de algumas canções populares dos Estados Unidos. Uma delas era o clássico do Bob Dylan.

Sempre digo que letras de músicas podem ser literatura, mesmo não tendo obrigação de. Numa atitude nada simpática, compartilho, abaixo, texto escrito por... mim... Eu o publiquei em meu blogue no dia 10 de setembro de 2008.
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Gosto demais quando as barreiras que separam o erudito do popular são derrubadas. Sempre me senti atraído pela tentativa de se fazer uma amálgama dos dois. Em mim, isso é tão forte, que chego a pensar que se algum dia eu tivesse de arriscar uma definição para o que é a arte, eu partiria desse princípio de fusão entre o que é considerado popular e o que é considerado erudito.

Canções e literatura sempre me atraíram. O John Lennon disse que quando começou a escrever letras, tentava imitar o Bob Dylan. Nessa tentativa, Lennon se esforçava por escrever letras complicadas cujo sentido permanecesse latente. Com o passar do tempo, mudou a abordagem e passou a escrever textos mais simples, mais diretos, com menos metáforas – “Imagine” é um exemplo dessa fase menos rebuscada. Contudo, Lennon reiterava que tentava escrever letras que pudessem ser também lidas, letras que funcionassem como um poema.

A música pop tem letras que são poemas. O que é pop não tem de necessariamente produzir textos que possam ser considerados peças literárias, mas isso não impede que a literariedade esteja presente no que é pop.

Penso em “The Unforgiven”, do Metallica. Com muita freqüência, eu me lembro de um dos trechos da letra. Diz o seguinte (tradução liviana):

What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through what I’ve shown

(O que senti
O que conheci
Nunca brilhou por intermédio do que mostrei)


O trecho não precisa ser cantado para “funcionar”.

Neste momento, escuto algumas canções. Uma delas, “Misread”, do Kings of Convenience. Um trecho da letra foi o que me levou a escrever o texto que você está lendo agora. Diz o trecho (novamente, tradução liviana):

How come no one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference

(Por que ninguém me disse
Que por toda a história
Os mais solitários
Foram os que sempre falaram a verdade
Os que fizeram a diferença
Resistindo à indiferença)


A MPB é pródiga em letras-poemas. De Pixinguinha a Lulu Santos, há fartura. E assim, “a porta do mundo é aberta/Minha alma desperta/Buscando a canção”.

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